- Folha de S. Paulo
Desde o novo surto de crise política, o caso Temer, trata-se de saber se a economia vai voltar a encolher.
Para surpresa quase geral, não houve sinais de catástrofe renovada desde o "evento do dia 17 de maio", como gente das finanças se refere de modo formal ao dia do escândalo do grampo Joesley-Temer. O processo de necrose do governo, no entanto, continua.
A Procuradoria-Geral insinua que vai lançar ataques, denúncias em série, contra Temer, talvez até setembro. Continua a escorrer sujeira do governo, como na entrevista de Joesley Batista.
A reforma trabalhista tropeçou no Senado. Embora não tenha dado com a cara no chão, pegou mal, de resto com sinais menores de debandada tucana e mesmo peemedebista. Atribuiu-se a baixa dos preços desta terça-feira (20) no mercado a esses encontrões, mas o fato é que a coisa azedou mais por causa de fatores externos, como queda do preço de commodities, por exemplo.
Ainda assim: é possível que os ânimos de consumidores e empresas resistam a um trimestre de tumulto sórdido?
Até o início da semana, o pessoal da finança ainda parecia convencido da história que vinha contando até o início desta semana para a explicar a reação muito tênue dos preços (juros, dólar, ações) à perspectiva de fim do programa reformista temeriano.
Ao contrário do que alardeavam, pregavam ou estimavam, não houve um estouro de manada em fuga quando as "reformas" subiram no telhado e de lá começaram a despencar.
Os dados até abril e os primeiros indícios e indicadores de maio mostram que a economia parou de fato de afundar. Vegeta no fundo escuro e úmido do poço.
O emprego formal por ora parara de diminuir, soube-se nesta terça-feirapelos dados do Ministério do Trabalho (Caged) para maio. No entanto, o número de carteiras assinadas baixou 3 milhões em relação àqueles 41,4 milhões de maio de 2014, quando a recessão começava.
O ritmo da arrecadação de impostos indica que o governo terá de fazer mágicas e milagres a fim de fechar as contas. No entanto, a receita deixou de cair em relação a 2016, embora frustre as expectativas de início do ano da equipe econômica, de um otimismo equivocado.
A economia cresceu, de janeiro a abril, um quase nada, que talvez mereça o nome de estagnação, mas se arrastou do buraco do quadrimestre anterior. Observadores da atividade econômica em lojas maiores e fábricas não haviam notado indícios de que o novo surto de sujeira política houvesse balançado os negócios, até a primeira dezena de junho.
Até a semana passada, o pessoal do mercado financeiro explicava a reação amena à provável morte da reforma da Previdência com os seguintes argumentos.
Primeiro, o teto de gastos vai dar conta de segurar o estouro das contas federais pelo menos até 2019 ou 2020. Segundo, a situação das contas externas, do câmbio e do mercado internacional é relativamente tranquila. Terceiro, é muito improvável que o arroz com feijão da política econômica mude até o final de 2018. Quarto e, portanto, é provável que os juros de curto prazo continuem a cair, com inflação baixa e economia estagnada.
Vamos ver se os ânimos de consumidores, empresas e mercado vão aguentar outro inverno escuro, talvez com tempestade.
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