Abril trouxe uma série de registros positivos do nível de atividades, que deixou no ar a esperança de que a recuperação da economia está em andamento. O primeiro sinal positivo veio da produção industrial que, depois de três anos consecutivos de queda, mostrou aumento de 0,6% de março para abril, na série com ajuste sazonal, quando a maioria dos analistas esperava uma estabilidade, na melhor das hipóteses. A fabricação de produtos farmacêuticos, veículos automotores, reboques e carrocerias e outras atividades que puxaram a recuperação haviam registrado forte queda em março. Na comparação com abril de 2016, porém, ainda há queda de 4,5%; nos quatro primeiros meses do ano, o recuo é de 0,7%; e, em 12 meses, chega a 9,7%.
Depois foi o varejo, cujas vendas aumentaram 1% em abril sobre março, com ajustes sazonais, após dois meses de recuo - o melhor resultado para o mês desde 2006 -, novamente surpreendendo os analistas, que contavam com uma queda. Em relação a abril do ano passado, o varejo cresceu 1,9%, interrompendo 24 meses de quedas seguidas nesse tipo de comparação; mas, no ano, a queda é de 1,6%; e, em 12 meses, de 4,6%. No varejo ampliado, que inclui veículos e de material de construção, o volume de vendas subiu 1,5% na comparação com março, o melhor resultado para abril desde 2008, novamente com queda é de 6,4% sobre o mesmo mês de 2016, de 1,8% no ano e de 6,3% em 12 meses.
Finalmente foram divulgados dados do aumento de 1% do volume de serviços prestados em abril na comparação com o mês anterior, feito o ajuste sazonal, o melhor resultado desde março de 2016 e o melhor abril desde 2013. Em março, o setor havia recuado 2,6% após revisão; e, em fevereiro, havia subido apenas 0,2%. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, porém, houve queda de 5,6%, o 25º recuo consecutivo nessa base de comparação. Houve queda de 4,9% no acumulado do ano; e de 5% em 12 meses.
Em comentário em rede social, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o crescimento registrado no primeiro trimestre deverá continuar no segundo, comemorando o aumento em abril de 0,28% do IBC-BR, índice do Banco Central considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). A venda de papelão e outros indicadores antecedentes em maio parecem lhe dar razão.
Nem todos concordam com Meirelles, porém. Os indicadores disponíveis ainda emitem sinais dúbios e, mais do que isso, receia-se que a crise política desencadeada pelas delações dos donos da JBS, atingindo diretamente o presidente Michel Temer, irá jogar por terra a tenra tentativa de recuperação, mais provavelmente a partir deste mês. O próprio Meirelles, para o público mais restrito de investidores, reduziu a previsão do ritmo de expansão da economia no quarto trimestre, dos 2,7% anteriormente comentados para 2,2% (Valor 20/6).
Os analistas estão inseguros a respeito da manutenção da tendência de recuperação. A recuperação da produção industrial está intimamente ligada ao ajuste do nível dos estoques, que, por sua vez, depende do nível da demanda, uma variável também sujeita às chuvas e trovoadas políticas. O mercado externo vem surpreendendo positivamente e pode ajudar a reduzir os estoques.
O varejo contou com o impulso de última hora da liberação dos recursos das contas inativas do FGTS, que terá um efeito limitado no tempo. E a queda da inflação propiciou a recomposição do poder de compra. E há também "os efeitos defasados" do corte de juros, que começam a beneficiar o comércio.
A perspectiva parece mais pessimista para o setor de serviços, que tem maior peso no PIB e deve ser o último a sair da crise, porque depende muito da recuperação do mercado interno. A reação recente dos serviços é consequência basicamente da melhoria verificada no segmento de transportes, a reboque da indústria, ainda incipiente.
O mais sensata é contar com uma estabilização da economia. Uma retomada sustentável, porém, depende muito da evolução da crise política. Maio pode não ter sido inteiramente comprometido, como apareceu em indicadores antecedentes, porque a turbulência pegou o fim do mês. A recuperação depende de reformas que estão no Congresso e cuja aprovação depende da atmosfera política.
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