- Folha de S. Paulo
Há muita torcida e pouca clareza sobre o que vai acontecer com a candidatura de Lula em 2018. A pressa do Tribunal Regional Federal da 4ª Região não elimina a incerteza do cenário eleitoral. A pendenga jurídica será longa, mesmo que o recurso do ex-presidente seja negado até o fim de janeiro.
Em tese, uma condenação em segunda instância impediria Lula de disputar a eleição. O petista precisaria encontrar um aliado capaz de substitui-lo na liderança das pesquisas. Como esta pessoa parece não existir, seus votos se espalhariam entre diversos candidatos.
Há vários pretendentes fora do PT, dos veteranos Ciro Gomes e Marina Silva aos novatos Manuela d'Ávila e Guilherme Boulos. A fragmentação da esquerda mudaria o eixo da disputa, com a possibilidade inédita de dois candidatos do campo conservador irem ao segundo turno.
O problema é que Lula não parece disposto a jogar a toalha. Este foi o recado da presidente do PT ao dizer que "o jogo não acaba" em 24 de janeiro, data do julgamento no TRF-4. Mesmo que o ex-presidente seja condenado, a lei não o impede de registrar a candidatura em agosto.
A palavra final caberá aos tribunais superiores e tende a sair às vésperas da eleição -ou até depois, a depender do acaso. Uma simples liminar do Supremo pode resolver a questão contra ou a favor de Lula. Isso depositaria o futuro da eleição na caneta de um único juiz, o que não parece saudável para a democracia.
Quem torce contra o ex-presidente contestou as críticas ao TRF-4 com um argumento razoável: ninguém pode ser favorável à lentidão da Justiça. Tudo bem, mas seria preciso cobrar que o tempo corresse igual para todos. O pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, também foi delatado pela Odebrecht. Seu caso ficou sete meses na gaveta e só agora começa a andar no Superior Tribunal de Justiça, e sob sigilo. Pouca gente se lembrou disso ao festejar a celeridade incomum do processo de Lula.
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