Bruno Boghossian / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A definição da data do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância (PT) reforçou a movimentação de partidos para lançar seus próprios candidatos ao Palácio do Planalto e pode estimular a multiplicação de nomes inscritos na corrida de 2018.
Para dirigentes de siglas como DEM, PMDB, PSD e PSB, a velocidade dada ao processo contra o petista amplia as chances de que o ex-presidente fique fora das urnas, o que abriria espaço para candidaturas alternativas tanto na esquerda quanto no centro e na direita.
A cúpula do DEM, por exemplo, voltou a trabalhar com a hipótese de convencer Luciano Huck a se candidatar à Presidência da República no ano que vem.
Integrantes do comando da legenda mantiveram contato com o apresentador da TV Globo mesmo depois que ele publicou na Folha artigo em que afirma que não disputará o Planalto em 2018.
Eles acreditam que podem convencer Huck a voltar a considerar esse projeto caso haja indícios fortes, nos próximos meses, de que Lula não conseguirá manter sua candidatura amparado por uma decisão judicial. Nesse caso, ele precisaria se filiar a um partido até o início de abril.
Dirigentes do DEM avaliam que o apresentador conseguiria atrair boa parte do eleitorado do petista e planejam oferecer o partido como plataforma para esse projeto, rompendo conversas iniciais da sigla com o PSDB do pré-candidato Geraldo Alckmin.
Além do plano Huck, os democratas ainda trabalham com os nomes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do prefeito de Salvador, ACM Neto.
NOMES ALTERNATIVOS
O TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) marcou para 24 de janeiro o julgamento do recurso apresentado pela defesa de Lula contra sua condenação a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Se a condenação de Lula for confirmada em segunda instância, a Lei da Ficha Limpa torna o ex-presidente inelegível, mas ele pode se manter na disputa por meio de recursos eleitorais.
Ainda que essa decisão não sele definitivamente o destino do petista, alguns partidos acreditam que o veredicto do tribunal tende a revelar um ambiente desfavorável ao sucesso de sua candidatura presidencial.
As legendas querem explorar os primeiros sinais contrários à candidatura de Lula para refazer seus planos eleitorais já nos primeiros meses do ano que vem.
Presidenciáveis 2018
Nos cálculos de dirigentes, a possível ausência do petista tornaria aberta uma disputa até então polarizada entre o ex-presidente e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Um quadro mais incerto e pulverizado, portanto, favoreceria um voo solo, capaz de chegar ao segundo turno com pouco mais de 15% dos votos.
Um revés judicial nessa etapa do julgamento poderia ainda aumentar as chances de uma candidatura de Henrique Meirelles (Fazenda), do PSD. O ministro esperava usar como palanques a recuperação da economia e o otimismo do mercado financeiro com a reforma da Previdência, mas as dificuldades de aprovação da proposta criaram um novo empecilho a seu projeto presidencial.
Também ganham fôlego candidaturas alternativas na esquerda. Além do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), avançariam algumas casas no tabuleiro os nomes de Manuela D'Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos, sem partido.
O PSB também acredita que o ambiente seria mais favorável para a construção de uma chapa encabeçada pelo ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Ele deve decidir até março se aceita o convite da legenda para se lançar ao Palácio do Planalto.
O PT pretendia explorar a força de Lula para tentar atrair essas siglas, mas uma derrota no TRF-4 tende a empurrar os partidos para outros projetos.
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