Para evitar palanque duplo, grupo ligado ao governador Geraldo Alckmin cogita a transferência do vice-governador Márcio França do PSB para a legenda tucana
Pedro Venceslau e Adriana Ferraz / O Estado de S.Paulo
Porto seguro do PSDB nas eleições presidenciais, o colégio eleitoral paulista é hoje motivo de grande preocupação para os tucanos, em especial para o governador do Estado, Geraldo Alckmin. Pré-candidato ao Planalto, Alckmin ainda não conseguiu unir o partido em torno de um palanque forte para sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes. Encerrado o carnaval, os próximos dias serão decisivos em busca de uma solução para o impasse. Entre as opções à mesa, está até a filiação do atual vice-governador, Márcio França (PSB), ao PSDB.
Além de França, o Palácio dos Bandeirantes tem como postulantes à candidatura governista o prefeito de São Paulo, João Doria, o secretário Floriano Pesaro, o cientista político Luiz Felipe D’Ávila e o ex-senador José Aníbal, todos do PSDB. Há ainda a pressão do Planalto para que Alckmin apoie Paulo Skaf, do MDB, em troca da força do Planalto na eleição nacional.
Se não encontrar uma saída que mantenha o PSDB unido, Alckmin corre o risco de sair enfraquecido na disputa nacional e também de deixar o PSDB desguarnecido em sua principal cidadela, o Estado de São Paulo, essencial para a sobrevivência do partido desde 1995, quando Mario Covas (1930-2001) assumiu o governo.
O perigo aumentou na semana anterior ao carnaval com a aproximação de França, pré-candidato ao governo, de partidos considerados de centro-esquerda, como o PC do B e o PDT, hoje fora da órbita tucana.
França tem conversado com Orlando Silva, presidente do PC do B paulista, e com Carlos Lupi, do PDT nacional. Os dois partidos admitem apoiar França, mas só se o PSDB estiver fora. No âmbito da eleição nacional, por esse arranjo, o vice-governador teria que abrir o palanque em São Paulo para os presidenciáveis Manuela D’Ávila (PC do B) e Ciro Gomes (PDT), além de Alckmin.
Para o secretario de Desenvolvimento Social Floriano Pesaro, do PSDB, seria muito ruim perder França para uma articulação de esquerda: “Fragilizaria a candidatura do Geraldo”.
Por conta disso, a possibilidade de França trocar o PSB pelo PSDB para concorrer à reeleição, já que ele deve assumir o governo de São Paulo a partir de abril, quando Alckmin tem de se desincompatibilizar, ganhou força recentemente.
Quadro. Assessores próximos a Alckmin avaliam que a mudança seria o melhor cenário para o governador. Aliados do tucano resistem ao nome de Doria, que é classificado por eles como “inquieto, impulsivo e imprevisível”, mas reconhecem que a candidatura do prefeito ganhou força nas últimas semanas após o vice-prefeito, Bruno Covas, assumir papel central nas negociações.
Na segunda-feira, o PSDB realiza uma reunião para definir as prévias locais. O encontro é visto como o dia D para definir os rumos do partido. Doria quer que a disputa seja feita em abril, antes do fim do prazo para a desincompatibilização. Os adversários internos preferem maio.
Apoio. A opção de abrir mão da candidatura para apoiar França pelo PSB, ventilada por aliados do governador, enfraqueceu nos últimos dias. A reação interna no PSDB foi acima do esperado. A avaliação é que a medida “causaria um estrago muito grande”. Mas o cenário não foi totalmente descartado e pode voltar ao tabuleiro eleitoral se o PSB sinalizar apoio a Alckmin nacionalmente.
A movimentação, contudo, encontra resistência dentro do PSB. Há forte resistência ao nome de Alckmin nos diretórios de Pernambuco e Rio Grande do Sul. “Está difícil para ele (França) trazer o PSB nacional para o Geraldo”, avaliou um aliado do governador. “Sem apoio do PSB nacional, perde-se a narrativa de abrir mão da cabeça de chapa”, sentenciou.
Caso a aliança com França não avance, a saída seria apoiar Doria, avalia um alckmista: “Em último caso, o governador aceitará Doria para evitar um desgaste maior em São Paulo”. “O governador não está completamente convencido que a opção Doria seja ruim”, disse um assessor do tucano, quando questionado sobre a opção.
Três perguntas para: Silvio Torres, deputado federal e tesoureiro nacional do PSDB
1. O vice-governador Márcio França pode se filiar ao PSDB e ser o candidato?
Essa possibilidade tem permeado as conversas sobre a sucessão no Estado. Não acho que seja uma possibilidade descartada. Mas, hoje, a situação caminha para duas candidaturas. Alckmin ainda tem esperança de ter uma candidatura só. São Paulo será o grande capital eleitoral do governador Alckmin. Não podemos nos perder em divisões internas.
2. O PSDB pode abrir mão de ter candidato próprio e apoiar França?
É uma possibilidade. Há uma preocupação do PSDB não ter candidato próprio. Essa é a preocupação de muita gente que está trabalhando no governo. Ficam um pouco amedrontados, talvez. Mas temos que perseguir a Presidência. O PSDB tem a obrigação de recuperar a Presidência.
3. Como você avalia a movimentação do prefeito João Doria?
O prefeito não assumiu publicamente sua intenção de concorrer, apesar da grande movimentação. Ele acha que pode deixar a Prefeitura nas mãos do Bruno Covas, mas há uma corrente grande no partido que acha que ele deve permanecer na Prefeitura. Eu já disse isso pessoalmente ao Doria. Ele foi eleito para ser o prefeito de São Paulo. Criou grandes expectativas. É da boa tradição que alguém assuma e cumpra até o fim o seu primeiro mandato.
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