Todo ano de eleição em geral se caracteriza por uma certa paralisia nos setores relevantes da sociedade, a começar pelo Congresso, cujos integrantes se entregam à campanha pela reeleição, deixando a atividade legislativa em segundo plano. No entanto, neste ano, em que a eleição à Presidência da República significa o encerramento definitivo – ao menos é o que se espera – da longa noite lulopetista que caiu sobre o País, tudo parece estar em suspenso. Não é possível antecipar nenhum cenário, qualquer que seja o vencedor da disputa, pois nenhum candidato – salvo os que não têm a menor chance de ganhar – conseguiu dizer com clareza o que pretende fazer assim que subir a rampa do Palácio do Planalto, em janeiro de 2019.
Tal comportamento resulta, em primeiro lugar, do estado gasoso das propostas dos candidatos, incapazes de fixar posição sobre os temas mais relevantes da conjuntura nacional. A pouco menos de cinco meses do primeiro turno, os postulantes ao principal cargo do Executivo não se arriscam a se enredar em compromissos que lhes comprometam as possibilidades de aliança por tempo de TV e por palanques nos Estados. Por isso, o eleitor mal conhece hoje as linhas gerais das plataformas oferecidas, e provavelmente não saberá distingui-las tão cedo, se é que em algum momento até a eleição isso será possível.
Mas a falta de firmeza das candidaturas talvez se explique menos pela fragilidade partidária e política dos postulantes – em boa parte dos casos, comprovada – e mais pela virtual impossibilidade de antever o cenário que aguarda o vencedor da eleição.
O Brasil, é bom lembrar, ainda está atravessando a pior crise econômica de sua história. Os primeiros resultados da formidável faxina promovida pela equipe econômica do presidente Michel Temer nos escombros da desastrosa gestão da presidente cassada Dilma Rousseff começam a ser sentidos, mas ainda há imensos desafios a enfrentar.
O País ainda necessita de fortes ajustes e reformas, e isso apenas para colocar as contas em total ordem. Nem se está falando, portanto, de impulsionar o desenvolvimento e acelerar o crescimento, pois essas etapas só podem ser deflagradas se houver condições objetivas, e estas ainda não estão dadas. O desafio imediato do próximo presidente será, portanto, o de administrar o País com escassos recursos, desequilíbrios fiscais crônicos e forte desconfiança dos investidores.
A sensação de paralisia e de incerteza se reflete em alguns dos indicadores econômicos mais recentes, a começar pela geração de empregos, cuja recuperação perdeu fôlego. Além disso, o consumo e a produção também vêm rateando, ainda que seu desempenho geral seja melhor do que o do ano anterior. Tudo isso reflete a atmosfera de incerteza acentuada que cerca o momento político do País. Decisões de compra por parte dos consumidores ou de investimento por parte dos empresários estão sendo adiadas simplesmente porque não é possível antecipar o que as urnas reservam para os brasileiros.
A palavra de ordem, portanto, é cautela. Embora haja uma demanda por firmeza, o que teremos daqui até a eleição será a multiplicação de dúvidas. Os candidatos que têm alguma chance real de ganhar sabem que correm o risco de serem acusados de “estelionato eleitoral” se prometerem soluções que não serão capazes de implementar, razão pela qual têm se limitado a falar genericamente sobre os principais problemas do País, como se a simples menção a eles fosse suficiente para demonstrar sua habilidade para resolvê-los. Ademais, como nenhum deles tem perfil capaz de entusiasmar os eleitores, fica a sensação de que não há candidatos à altura das adversidades do País, gerando ainda mais desânimo e indefinição.
Entende-se a precaução dos postulantes à Presidência da República, mas eles não podem esperar até depois da eleição para dizer o que pretendem fazer. Mais do que nunca, os eleitores precisam saber no que estão votando, porque o resultado desse pleito pode significar, depois de tantos sacrifícios para superar a crise, um terrível retrocesso.
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