Instituição projeta que PIB global encolherá 5,2%. Expectativa é de retomada parcial em 2021, mas processo pode ser mais lento se pandemia não perder força até o fim do ano
Marcello Corrêa e Bruno Rosa | O Globo
BRASÍLIA E RIO - A crise do coronavírus deve fazer a economia brasileira encolher mais que o esperado pelo governo e por analistas do mercado financeiro, de acordo com projeções do Banco Mundial. Nas contas do organismo internacional, o país amargará uma recessão de 8% neste ano, a pior da série histórica. A retração é mais que o triplo da queda de 2,5% esperada para o grupo de nações emergentes.
A entidade estima ainda que a recuperação do Brasil será tímida, com crescimento de 2,2% no ano que vem, bem abaixo da alta de 4,2% prevista para o Produto Interno Bruto (PIB) global. E a saída da recessão pode ser ainda mais vagarosa, caso os efeitos da pandemia sejam mais longos e a agenda de reformas não avance, alerta a instituição.
As estimativas fazem parte do relatório “Perspectivas econômicas globais”, divulgado ontem. O estudo revela um cenário mais grave do que o traçado até agora por outras fontes. No Boletim Focus, do Banco Central, economistas projetam que o PIB brasileiro registre queda de 6,48%.
Em abril, a entidade havia divulgado outro estudo em que previa retração de 5% para o PIB do país.
Também em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou uma queda de 5,3% da economia brasileira. A mais recente projeção do governo, de maio, indica resultado negativo de 4,7% para este ano.
Segundo o Banco Mundial, o PIB global encolherá 5,2% neste ano. Se confirmada, será a recessão mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A fatia de países a registrar queda do PIB per capita (tamanho da economia, dividido por habitante) será a maior desde 1870.
Considerando as projeções divulgadas, o Brasil terá o 15º pior desempenho, em um ranking de 135 países. A queda projetada para o país é pior do que a de pares como México, Equador e Argentina.
As projeções, no entanto, dependem da evolução dos casos de Covid-19, pontua o Banco Mundial. A expectativa de retomada leva em consideração as medidas restritivas necessárias para conter a disseminação do vírus.
Em um cenário mais negativo, o avanço da economia global pode ser de apenas 1%, em vez de 4,2%. O organismo não divulgou dados abertos por país nesse cenário mais pessimista.
“Uma recuperação esperada de 2,2% (no Brasil) em 2021 é baseada na suposição de uma constante redução dos fatores que pesaram sobre a atividade em 2020, assim como uma retomada da agenda de reformas voltadas ao ambiente de negócios que foi pausada para priorizar a resposta à Covid-19”, diz um trecho do documento.
Evolução da doença
Em um momento em que ações do governo jogam incerteza sobre o avanço da pandemia no país, o Banco Mundial avalia que será determinante saber a evolução da doença para preparar as políticas públicas necessárias para lidar com o cenário adverso.
— É necessário entender que essa é uma crise que não vai se resolver no curto prazo. Infelizmente, não há indício claro de que algumas economias na região chegaram ao pico de casos, (que) seguem aumentando de maneira preocupante — afirma Carlos Arteta, economista-chefe do Grupo do Banco Mundial, em teleconferência com a imprensa.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ressalta que a previsão de queda de 8% reflete a dificuldade do Brasil de sair da quarentena de forma ordenada:
— Há uma dificuldade de saber quais são os dados confiáveis sobre a doença. E isso atrapalha o processo de reabertura. Estudos indicam que o pico da doença será em julho, então não parece ser o ideal falar em reabertura agora. A falta de coordenação entre estados e o Poder Executivo confunde a população e deixa a retomada descoordenada. Isso fará esse processo de retomada ser mais longo aqui no Brasil do que em outros países.
Para Luiz Carlos Prado, professor de economia internacional da UFRJ, a projeção divulgada pelo Banco Mundial reflete a crise provocada pela pandemia e também a instabilidade política do governo. Isso, segundo ele, ajuda a explicar por que a previsão para o país é pior do que para outras nações da América Latina:
— No Brasil, o governo é pouco comprometido com a coesão social, o que afeta a expectativa de economistas e empresas.
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