Concessões
ao establishment podem desmotivar base militante do presidente
Existe
um equilíbrio difícil entre o que é necessário para governar e o que é
necessário para se eleger, sobretudo com plataforma populista.
A
indicação de Kassio Nunes para o STF, o
jantar de Bolsonaro com Toffoli e Alcolumbre e
a retomada do diálogo entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia são os sinais mais
visíveis da normalização de Bolsonaro que abandonou o discurso golpista e fez
sucessivas concessões ao establishment.
As
duras críticas que recebeu da militância mostra que os movimentos necessários
para estabelecer as bases políticas para a governabilidade podem comprometer a
disposição e o entusiasmo dos apoiadores. Será que Bolsonaro vai conseguir
equilibrar os pratos?
Dois
fatores contribuíram para a mudança de atitude do presidente.
O
primeiro foi a agressiva
reação de Alexandre de Moraes que
conduziu com mão dura dois processos que envolviam apoiadores de Bolsonaro
—aquele que investigava os atos antidemocráticos e aquele que investigava
ataques à corte nas mídias sociais.
Seu
compromisso com o radicalismo online veio do reconhecimento de que sua eleição
se deveu à agitação de Carlos Bolsonaro no WhatsApp. E sua nova postura parece
vir do reconhecimento de que no momento em que a agitação militante foi
contida, sua aprovação cresceu com a implementação do auxílio emergencial.
Mas
nem tudo o que o ajuda a governar, o ajuda a se reeleger.
Como
Bolsonaro bem demonstrou nas eleições de 2018, uma militância entusiasmada e
enraizada na sociedade pode derrotar campanhas adversárias com mais recursos.
Sua recondução em 2022 depende de uma base motivada e continuamente mobilizada.
Bolsonaro
não pode se dar ao luxo de deixar a militância esmorecer. Ele vai precisar
fazer como Lula, que enquanto governava com um pragmatismo desavergonhado,
distribuía migalhas à militância de esquerda que passou oito anos acreditando
que seu governo estava em disputa.
É
o que parece que Bolsonaro já começou a fazer com a promessa feita à base
evangélica de que, embora não tenha sido dessa vez, sua próxima indicação ao
STF será de um ministro, não apenas evangélico, como pastor —e acendeu a
fantasia dos fanáticos com a imagem de sessões do Supremo precedidas por uma
oração.
*Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia
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