Com
plano confuso de vacinas, Saúde quer mesmo é desovar cloroquina contra o
'bichinho'
Acerta
o ministro Paulo Guedes em deixar de lado o foco fiscal e se dispor a destinar até R$ 20 bilhões para a vacinação em massa contra a pandemia.
Erra o ministro Eduardo Pazuello ao entrar numa guerra política insana e
planejar gastar R$ 250 milhões na distribuição de um remédio encalhado e
desautorizado para a covid em todo o mundo.
Tão
fundamental, o equilíbrio das contas públicas é sempre ignorado pelo Brasil,
entra governo, sai governo, mas não é hora de pensar nisso e, sim, em como
combater o maior mal do século. Dinheiro para vacinação não é gasto, é
investimento: na vida, na volta à normalidade, na sustentabilidade do sistema
público e privado de saúde, na recuperação da economia e na volta dos empregos.
Não basta, porém, a decisão de investir, é preciso ter no que investir. Ou seja: é obrigatório ter planejamento, cronograma, meta, acordos com fornecedores de luvas, seringas, embalagens, refrigeradores e, o mais importante, vacinas. O Ministério da Economia diz que tem dinheiro, o da Saúde tem o plano? Qual a consistência do que foi entregue ao STF?
Perdido,
depois de desautorizado
pelo presidente Jair Bolsonaro a negociar a vacina do Instituto Butantã,
Pazuello joga datas ao léu e agora fala em dezembro. Mas, se o presidente diz
que a pandemia “está no finalzinho”, o que está mesmo no finalzinho é dezembro,
é 2020. O que foi feito, foi; o que não foi, não foi. Com o mundo inteiro
desesperado por vacinas, os países que chegaram primeiro nas farmacêuticas
chegam primeiro aos seus cidadãos. O resto fica chupando dedo.
Sem
vacina em tempo e em quantidades seguras, o Ministério da Saúde imagina atalhos
espinhosos, como “requisitar” (ou confiscar?) vacinas de quem foi mais
diligente e criar um “kit covid” para desovar os estoques de cloroquina
encomendados teimosamente por Bolsonaro ao amigão Trump e aos laboratórios das
Forças Armadas. Senão, vai ter de prorrogar a validade da cloroquina, como a
gente não faz com o iogurte da geladeira, mas eles fizeram com os 7 milhões de testes jogados no almoxarifado da incompetência.
Agora,
é torcer para a pressão que partiu de São Paulo chegar ao resto do País e gerar
senso de urgência e ação, porque somos 210 milhões e é necessário apostar no
máximo de vacinas, com rapidez, segurança e a confiança da população na nossa
Anvisa, de tão boa imagem, serviços prestados e quadros de excelência.
Enquanto
isso, o País e os próprios governadores se dividem. Ronaldo Caiado (GO),
errático, está irado com João Doria (SP) – que “criou dois Brasis, um com e
outro sem vacina”, ao anunciar para 25 de janeiro uma vacina ainda sem
autorização da Anvisa –, mas passa a mão na cabeça de Bolsonaro, quem
efetivamente criou esses dois Brasis.
(Detalhe:
médico ortopedista, Caiado já fez 32 testes, todos negativos, mas sua mulher e
duas filhas estão com covid. Nenhuma das três tomando cloroquina...)
O
curioso, ou drástico, é como as situações se confundem nos Estados Unidos e no
Brasil, onde o coronavírus ganha a guerra e vai fazer uma grande festa no Natal
e no ano-novo. Há, porém, duas diferenças. Nos EUA, a vacinação está para
começar e tudo muda de figura em janeiro. Lá, há definição e horizonte. Cá,
indefinição e nebulosidade.
À Globonews, na sexta-feira passada, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta previu uma segunda onda em março/abril e contou como fez de tudo para tentar convencer Bolsonaro da gravidade do vírus, desde um denso documento até explicar que é “um bichinho que entra pelo nariz e passa de uma mão para outra”. E avisou: no pior cenário, se nada fosse feito, o Brasil chegaria a 180 mil mortes em dezembro. Bolsonaro optou pelo ego e os terraplanistas. Para quem vai o troféu dos 180 mil?
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