Ministro
Luís Roberto Barroso poderá homologar a papelada da colaboração do empresário
José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à Procuradoria-Geral da República
(PGR)
Nesta
semana, o ministro Luís Roberto Barroso poderá homologar a papelada da
colaboração do empresário José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à
Procuradoria-Geral da República (PGR). Há mais de uma semana, a repórter Bela
Megale revelou que Júnior, como ele é conhecido, concordou em pagar R$ 200
milhões à Viúva pelas transações em que se meteu, alimentando caixas de
políticos. Em julho, ele passou três dias na cadeia, e sua colaboração foi
antecedida pela de um sócio.
Chegando
a valer cerca de R$ 4 bilhões, a Qualicorp tornou-se uma campeã organizando
planos coletivos de saúde. Como uma jabuticaba, ela nunca foi uma operadora,
mas Júnior tornou-se um bilionário trabalhando num mercado onde se misturam
capilés para políticos que colocam jabutis nas leis e azeitam-se promiscuidades
com as agências reguladoras.
Finalmente,
o Ministério Público acercou-se desse mercado. A Lava-Jato chegou perto, mas
distraiu-se. Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa, recebeu pelo
menos R$ 580 mil fazendo palestras para plateias da Unimed. Ele explicou que
repassava os valores a entidades filantrópicas.
Quando a colaboração de Júnior for conhecida, será possível avaliar a sua profundidade. A operação Lava-Jato começou com muito menos, pois nela o fio da meada foi puxado a partir de um posto de gasolina que lavava dinheiro. A memória da Qualicorp, ou de qualquer grande operadora, guarda muito mais que isso. Os procuradores de Curitiba puxaram os fios e deu no que deu. A PGR está com o novelo na mão. Sabe-se que negociou uma multa milionária, mas a questão está também em outro lugar: na máquina desse mercado.
Pode-se
dar de barato que a colaboração de Júnior levará para a mesa alguns políticos,
provavelmente figurinhas fáceis de outros escândalos, alguns confessos, ou
notoriamente mentirosos. Pelo cheiro da brilhantina, cairá na roda um doutor
que queria cobrar os serviços do SUS.
O
valor da colaboração de Júnior poderá ser avaliada se ela tratar do
funcionamento da porta giratória pela qual maganos saem do mercado e vão para
as agências reguladoras, ou fazem o caminho inverso, sempre enriquecendo.
Noutra vertente, pode-se vir a saber como se enfiou um jabuti numa Medida
Provisória de 2015. Ele reduzia o valor unitário das multas aplicadas pela
Agência Nacional de Saúde Suplementar quando o volume passasse de certos
limites. Em bom português: quem delinquir muito pagaria menos que quem
delinquiu pouco. Dilma Rousseff vetou o jabuti. Trata-se de perguntar, ouvir,
anotar o nome do magano e chamá-lo a depor. Se for o caso, remetê-lo à
carceragem.
Seripieri
Júnior fez todo o caminho do mercado, conheceu suas vísceras e no ano passado
começou a montar uma empresa fechada. Nela, ao contrário das operadoras que
cobrem despesas com centenas de médicos, laboratórios ou hospitais, as
operadoras fechadas têm suas listas e, sobretudo, seus hospitais. Graças a
isso, controlam seus custos e acabam cobrando menos.
A
PGR está diante da oportunidade de abrir a caixa-preta dos planos de saúde.
Basta expandir a operação abrindo um capítulo em que se fazem perguntas
estranhas ao ritual, porém essenciais para o propósito da investigação. Assim
foi com a Lava-Jato e assim foi com a investigação da Receita Federal e do FBI
americano, que detonou as roubalheiras da cartolagem internacional do futebol.
A
ideia segundo a qual se combate a corrupção com multas milionárias é pobre.
Acaba criando uma espécie de pedágio, caro, porém imunizante.
A
turma dos planos de saúde, acossada pela perda de clientes e pela reação aos
reajustes selvagens, já tentou dois saltos triplos. Num, no escurinho de
Brasília, queriam mudar a lei que regula seu mercado. A elas, tudo, aos
consumidores, nada. Noutro, querem privatizar serviços do SUS. Isso durante uma
pandemia na qual tentaram negar cobertura para os testes de coronavírus.
Madame
Natasha e o general
Madame
Natasha não perde entrevistas do general Eduardo Pazuello e admira os momentos
em que ele fica calado. Outro dia, falando a parlamentares, o ministro da Saúde
incomodou a senhora quando disse coisas assim:
“Se
o processo eleitoral nas cidades, com todas as aglomerações e eventos, não
causa nenhum tipo de aumento da contaminação, então não falem mais em
afastamento social.”
“Precisamos compreender de uma vez por todas
que nós só aplicaremos vacinas no Brasil registradas na Anvisa.”
Com
décadas de serviço nos quartéis, o general Pazuello aprendeu a falar como
comandante. Como ministro da Saúde, deveria aprender que não manda nas suas
audiências. Dizer a quem quer que seja que não deve mais falar em afastamento
social é uma indelicadeza, se não for uma bobagem. Quando ele diz que
“precisamos compreender de uma vez por todas” que o governo só patrocinará
vacinas aprovadas pela Anvisa, diz uma platitude. O problema é outro: cadê a
vacina federal?
Natasha
recomenda gentilmente ao general entender que seu desempenho terá uma avaliação
cronológica. A vacina chegará a diversos países em janeiro, inclusive à
Inglaterra e ao México, cujos governos foram negacionistas. Pazuello não sabe
precisar o mês do início da vacinação no Brasil e acha razoável que metade da
população de Pindorama só consiga ser imunizada no segundo semestre do ano que
vem. Em São Paulo, a vacinação vai começar em janeiro, a menos que Pazuello e
Bolsonaro queiram atrapalhar, metendo-se numa ridícula Revolta da Vacina 2.0.
Quando
Natasha era uma mocinha e os generais se metiam onde não deviam, ela teve que
ir a Montevidéu para ver o filme “Último Tango em Paris”. (Achou-o muito
chato.)
Natasha
morre de medo de ter que viajar ao exterior para ser vacinada.
Kerry
e os agrotrogloditas
A
nomeação do ex-senador John Kerry para a posição de czar na política de meio
ambiente do governo de Joe Biden deve acender um sinal de alerta no Planalto.
Ex-secretário
de Estado, Kerry não conhece agrotrogloditas, mas tem boas relações com alguns
ambientalistas brasileiros.
Seria
útil que os çábios do
bolsonarismo parassem de pressionar empresas multinacionais que pararam de
comprar soja plantada em áreas de conflito ambiental. As filiais comunicam
essas pressões às suas matrizes.
Coisas
de Pindorama
Um
marciano passou pelo Brasil em 1821 e gostou das gazetas que defendiam a
independência da Colônia. Voltou em 1823 e soube que ela fora proclamada, com o
filho do rei de Portugal coroado imperador.
Imortal,
o marciano foi ao comícios das Diretas de 1984 e encantou-se. Voltou em 1985 e
soube que a campanha havia resultado na eleição indireta de Tancredo Neves, mas
quem estava na Presidência era José Sarney, presidente do partido do governo em
1982.
O marciano resolveu nunca mais voltar ao Brasil. Ele vive em Washington e soube que o doutor Sergio Moro é novo sócio-diretor da firma em cujo portfólio de clientes está a Odebrecht com seu processo de recuperação judicial.
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