O
presidente Jair Bolsonaro não poderá tirar grande proveito político da chegada
da vacina porque até agora só fez jogo contra
Este
início de mês parece caracterizar-se pela criação de fatos econômicos
importantes por fatores externos à política econômica propriamente dita.
Um deles é a vacina.
Em que pesem as informações parciais e desencontradas sobre a eficácia da fase final
de testes, a vacina contra a covid-19 está às portas.
As
primeiras remessas não estarão disponíveis para toda a população, mas o início
da vacinação começará a exercer efeitos econômicos e políticos mesmo antes
disso. Investimentos serão destravados, segmentos da área de serviços poderão
operar de maneira mais próxima da normalidade, as viagens serão
retomadas e algumas incertezas em relação ao futuro, removidas.
Como já avançado por esta Coluna no dia 3, o presidente Jair Bolsonaro não poderá tirar grande proveito político da chegada da vacina porque até agora só fez jogo contra. Sua imagem não está identificada com ela. Ele negou a gravidade da pandemia, recomendou remédios ineficazes, como a cloroquina e hidroxicloroquina, desdenhou da vacina e vem tentando torpedear a ação dos governadores comprometidos com ela. É possível até que, nessa matéria, o Supremo Tribunal Federal meta sua colher nesse caldeirão contra o presidente. Ou seja, o acesso à vacina pela população pouco ou nada contribuirá para que o presidente Bolsonaro adquira poder de barganha política na busca de outros objetivos do governo na área econômica.
Outra
novidade com importantes consequências para o jogo de poder e também para a
política econômica é a proposta de recondução do deputado Rodrigo Maia e do
senador Davi
Alcolumbre para as presidências da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal,
respectivamente. Se o Supremo remover os obstáculos jurídicos para essa
recondução, o governo federal também perderá influência na condução desse
processo. E, como as taboas do brejo sempre balançam conforme o vento, esse
fato poderá ter força suficiente para reduzir o apoio do chamado Centrão, atual base
política do governo no Congresso.
Uma
das consequências dessa nova relação de forças poderá ser a de que as próprias
mesas da Câmara e do Senado tomem a iniciativa de colocar em votação projetos
de reforma, especialmente a tributária,
como já aconteceu anteriormente com a aprovação da reforma
da Previdência. Nesse caso, caberá ao Ministério da
Economia o papel secundário de tentar adaptar alguns dos seus
objetivos aos projetos a serem examinados no Congresso Nacional. O mesmo
protagonismo do Legislativo pode
tornar-se importante em decisões de política fiscal de maneira a garantir um
Orçamento federal mais equilibrado.
Durante
muitos anos, os brasileiros se acostumaram a ver que a primazia da condução da
política econômica partia sempre do Executivo. Agora, tanto a falta
de um plano estratégico como as grandes omissões do governo federal em matérias
relevantes, sempre à espera de que aconteça alguma coisa, abrem o
espaço para que o Congresso e o Supremo tenham a última palavra.
De certa maneira, essa parece ser, também, a percepção do mercado financeiro, que passou a apostar na queda da cotação do dólar e na alta do mercado de ações.
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