Ninguém
mais autorizado a julgar o papel dele na pandemia
Dos
57,8 milhões de votos despejados em Jair Bolsonaro em 2018 pelos brasileiros
que queriam se livrar do PT, milhares terão sido de médicos, dos estudantes de
medicina e de toda espécie de profissionais da saúde, de cientistas recordistas
em Ph.D ao mais humilde servente de um hospital. Ninguém, claro, poderia
adivinhar que, em um ano e meio, o mundo seria varrido por uma pandemia. Mas,
sendo médicos, nenhum terá suspeitado de que estavam elegendo um demente?
Eu me pergunto se, hoje, heróis da linha de frente contra a Covid-19, algum deles tem dúvida. Mais do que todos, eles sabem que, no governo, está alguém que, entre o vírus e o povo, escolheu ficar a favor da morte.
Bolsonaro
negou a gravidade do problema, insultou os
coveiros, promoveu
aglomerações e espalhou desinformação sobre o distanciamento, a
higienização e o uso da máscara. Jogou com a vida dos que acreditaram num
remédio inócuo, a cloroquina, e nisso comprometeu o Exército e o SUS.
Desmoralizou os médicos ministros da Saúde e trocou-os por um general da ativa
incapaz de distinguir entre um vírus e um piolho, mas disposto a cuspir na
própria farda para servi-lo.
O
dito general da passiva mentiu sobre o número de casos, ignorou medidas que
permitiriam seguir a evolução da doença e deixou mofar milhões
de testes que ajudariam a salvar vidas. Quanto a Bolsonaro,
depois de chamar nossos mortos de maricas e atribuir poderes políticos às
vacinas, dedica-se agora, negando uma cultura de 100 anos, a minar a confiança
nelas. Por ele, a pandemia nunca será superada.
Seria
urgente saber o que a comunidade médica, por seus conselhos, institutos e
organizações, tem a dizer sobre Bolsonaro nessa tragédia. Ninguém mais
autorizado do que ela a calcular quantos, entre os até agora mais de 175 mil
brasileiros mortos pela Covid, caíram pela ação ou inação do homem que vários
de seus membros ajudaram a eleger.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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