STF,
‘guardião’ da Carta, estende tapetão para Maia e Alcolumbre
O
Brasil precisa de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia no
comando do Legislativo? Ambos e alguns ministros do Supremo Tribunal Federal parecem
crer que sim. Ou pior: parecem querer convencer o Brasil de que sim, mesmo
sabendo que se trata apenas e tão somente de uma briga pela manutenção de um
importante naco de poder, num momento especialmente delicado da vida
nacional.
O
fato é que não, o Brasil não precisa dos dois mais dois anos à frente do Senado e da Câmara,
mas sim, caso eles permaneçam lá (com a ajuda suprema), as decisões que eles
tomarem terão amplo impacto na vida do Brasil, e não apenas interna corporis
das Casas que comandam. O que torna o casuísmo supremo ainda mais deletério
para o nosso sempre adiado amadurecimento institucional.
Gilmar Mendes fez um voto tão longo quanto confuso para tentar convencer o País e seus pares de que Rodrigo Maia poderia tentar não o quarto, mas o segundo mandato como presidente da Câmara. E que Alcolumbre pode, sim, se candidatar a mais um biênio na cadeira azul do Senado quando outras raposas que o antecederam bem que gostariam de fazê-lo, se a regra fosse mesmo essa.
Trata-se, como escrevi no BR Político, de querer tratar a Constituição como as irmãs da Cinderella fizeram com o sapatinho de cristal: atochando num pé maior e cheio de joanetes e jurando que serve direitinho.Acontece
que o Brasil vive sob o governo de um presidente da República que já deu
inúmeras demonstrações práticas de que gostaria de quebrar o sapato de cristal
da Constituição e andar de botinas por aí.
É
uma contradição grave que seja justamente a Corte que tantas vezes veio em
socorro da sociedade, impedindo atos que atentavam contra o Estado democrático
de direito, defendendo o princípio do pacto federativo, e prestes a decidir
sobre algo importantíssimo, como a obrigação do Estado de garantir vacina em
uma pandemia, resolva fazer um recreio para dar uma forcinha para os amigos do
prédio vizinho na Praça dos Três Poderes.
Ao
fazê-lo, o STF volta a episódios recentes de triste memória, como aquele em
que fatiou o que
diz a lei do impeachment de forma textual para assegurar a
Dilma Rousseff a manutenção dos seus direitos políticos.
Não
surpreende que Alcolumbre, que na própria eleição deixou até de ir ao banheiro
para não se levantar da cadeira de presidente do Senado, se lance a essa
aventura. Era um novato do baixo clero antes de comandar a Casa, se beneficiou
da repulsa nacional a Renan
Calheiros e agora quer gozar de mais dois anos de notoriedade.
Iria a pé a Macapá por isso.
Mas
e Rodrigo Maia? O presidente da Câmara já deixou o baixo clero há tempos. É
visto pelo mercado e por setores da sociedade como um garantidor das normas, da
legalidade e da previsibilidade. Como esses princípios se encaixam numa
narrativa, qualquer que seja ela, para se perpetuar no poder pelo inacreditável
período de 2016 a 2022?
Não
importa que do outro lado da disputa esteja alguém com as credenciais
fisiológicas de Arthur Lira.
Isso é fulanizar a discussão. Os 513 deputados que se virem e cheguem a um nome
capaz de comandar a Câmara diante do brutal desafio econômico, posto desde
já.
Rodrigo
Maia tem, até fevereiro, de conduzir a Casa para resolver o nó do fim do
auxílio emergencial, da manutenção ou não do teto de gastos e da votação do
Orçamento. São tarefas urgentes, que não coadunam com a busca egoica por mais
dois anos de poder.
Se
for bem sucedido na agenda e se mantiver o importante contraponto que tem feito
aos abusos e erros do governo Bolsonaro, terá todas as credenciais para fazer
seu sucessor sem precisar se enrolar no tapetão que o STF está disposto a
estender diante de seus pés.
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