Bolsonaro
vai sorrir amarelo para o centrão?
Quando
seu candidato ganhou a eleição à presidência da Câmara, Bolsonaro perdeu um
ponto de sustentação da sua narrativa. E ele sabe disso, por isso a reação de
afastamento: "eu apenas fiquei na torcida".
Jair
existe na reação porque a sua presidência —ou a sua existência— não tem plano
de ação. A estratégia é colocar a culpa nos outros. Foi assim até agora e tem
funcionado.
O problema é que Arthur Lira não me parece ter qualidade essencial para que alguém seja considerado aliado do plano egocêntrico do capitão: a disposição para servir de muleta para o presidente. Alguém imagina Lira num vídeo como o de Regina Duarte na sua saída da Secretaria de Cultura? O sorriso amarelo de uma existência que se coloca a serviço do mito? Eu não. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Isso significa que Lira não poderá fazer concessões aos arroubos e discursos
simbólicos de Jair? É claro que não. Fará, desde que a realidade se oriente em
direção àquilo que é interesse do centrão. O sorriso amarelo pode se tornar o
de Jair.
A
pandemia produzirá os seus efeitos agravados pela péssima gestão de um
presidente negacionista que boicota até a vacina. Um possível sucesso na pauta
dos costumes segura Bolsonaro até a página dois. Se a economia afunda, não há
conservadorismo que segure a insatisfação. Quando a hora do descontentamento
chegar, o centrão, se lhe parecer conveniente, pode dizer: a culpa não é nossa,
é do presidente, que não nos deixou fazer nada. Para isso, claro, precisam
apresentar uma nova liderança.
O
desafio dos que se contrapõem à agenda de Bolsonaro é compreender o resultado
das eleições de 2018 e dos primeiros anos de governo com menos espanto e mais
estratégia. Construir um denominador comum. A eleição na Câmara mostrou quantos
votos se fazem com a frente ampla que a gente não construiu: um segundo lugar
com menos da metade dos votos. Vitória no primeiro turno.
Que fique o recado para pensarmos 2022.
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