Bolsonaro
reclama de gravação de conversa
Por
Fabio Murakawa e Matheus Schuch / Valor Econômico
BRASÍLIA - O ministro da Defesa, general Braga Netto, disse ontem que o país vive uma instabilidade que exige “coragem moral” dos homens públicos e respeito a limites impostos pela Constituição. Ao discursar na cerimônia de posse do novo comandante da Força Aérea, repetiu o termo utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro ao atacar o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter determinado a abertura da CPI da Pandemia no Senado.
A
fala do ministro ocorreu horas depois de Bolsonaro ter se queixado do senador
Jorge Kajuru (Cidadania-GO) por haver divulgado um diálogo entre ambos em que o
presidente pede que a CPI investigue Estados e municípios e encorajá-lo a atuar
para acelerar a abertura de processos de impeachment contra ministros do STF.
Braga
Netto assumiu a Defesa em meio a desconfianças sobre politização das Forças
Armadas. Ele foi deslocado da Casa Civil para a Defesa após queixas de
Bolsonaro de que o antigo titular da pasta, Fernando Azevedo, não fazia uma
defesa política do presidente.
“O
momento exige de todos e as cizânias geram instabilidades”, disse Braga Netto,
na posse do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior no comando da
Aeronáutica. “Os homens públicos devem ter coragem moral, compreendendo os
papéis institucionais e constitucionais de todos os envolvidos para que as
ações tenham sinergia e os resultados sejam efetivos.”
Na
sexta-feira, ao comentar a decisão de Barroso, Bolsonaro disse faltar ao
ministro “coragem moral” e sobrar “ativismo judicial”.
Braga
Netto afirmou que as Forças Armadas honrarão “sempre os propósitos de
liberdade, democracia, independência e harmonia entre os Poderes e as
expectativas do povo brasileiro”.
Em linha com Bolsonaro, que acompanhou a cerimônia sem discursar, o ministro exaltou o repasse de mais de R$ 700 bilhões para apoio a Estados e municípios para viabilizar o auxílio emergencial. E cobrou fiscalização sobre aplicação dos recursos.
Bolsonaro
quer a inclusão de governadores e prefeitos em eventuais apurações sobre a
gestão da pandemia, a fim de diminuir a pressão da CPI sobre o Planalto.
“O
uso destes recursos pelos gestores de todas as instâncias deve ser acompanhado
de perto pela população e sofrer apuração mais rigorosa para constatar os reais
benefícios diretos para a sociedade", disse Braga Netto.
Mais
cedo, a comentar a divulgação do áudio por Kajuru, Bolsonaro disse que o
parlamentar só poderia ter sido gravado pelo senador com autorização.
“Eu
fui gravado em uma conversa telefônica, a que ponto chegamos no Brasil.
Gravado”, disse a um fã no Palácio da Alvorada. “Não é vazar. É te gravar. A
gravação é só com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e
divulgar...”
Bolsonaro
reclamou ainda que a CPI é “completamente direcionada contra a minha pessoa” e
pediu que o alvo das investigações seja ampliado. “Se não mudar o objetivo da
CPI, ela vai vir só para cima de mim”, afirmou o presidente. “O que tem que
fazer para ser uma CPI que realmente seja útil para o Brasil? Mudar a amplitude
dela. Bota governadores e prefeitos.”
Fontes do Palácio do Planalto com quem o Valor conversou ontem admitiam que pairava a dúvida sobre se a divulgação do áudio foi ou não combinada entre Bolsonaro e Kajuru. Mas esses interlocutores do governo afirmaram à reportagem que, por via das dúvidas, não mais conversariam ao telefone com o senador. “Para falar com ele [Kajuru] agora, só se for na sauna, como os romanos faziam”, disse uma fonte.
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