Governantes
de todas as orientações políticas e ideológicas procuram conter ou até esvaziar
a atuação de comissões parlamentares de inquérito que miram suas
administrações, o que pode ser legítimo a depender dos métodos empregados. Essa
lógica não se aplica, entretanto, a Jair Bolsonaro.
Como
de costume, o presidente trocou o papel de bombeiro pelo de incendiário ao
fazer seu movimento contra a CPI da Covid no Senado. Na bombástica
conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Bolsonaro
abriu novas frentes de conflito e deu mais motivos para que os parlamentares
levem adiante a apuração.
Note-se
que no diálogo, prontamente divulgado por Kajuru, não há uma mísera tentativa
de defesa da atuação do governo na crise sanitária —a menos que reste algum
trecho misterioso a vir à tona.
Nem por apreço às aparências Bolsonaro procura justificar o boicote ao distanciamento social, a difusão da cloroquina ou a campanha antivacina, só muito tardiamente abandonada. O ministro da Saúde, aliás, candidamente trata o chefe como inimputável (“É meu dever persuadir meu presidente”) em entrevista concedida à Folha.
A
estratégia bolsonarista, se é que se podem unir as palavras, consiste em
tumultuar e intimidar.
Ele
pede a inclusão de governadores e prefeitos nas investigações, numa grosseira
manobra evasiva. É claro que uma CPI não terá como averiguar as ações de 26
estados, Distrito Federal e 5.570 prefeituras sem pontos de partida claramente
definidos —como há de sobra no governo federal.
Quer
que avance a discussão sobre o impeachment de ministros do Supremo Tribunal
Federal, responsáveis por examinar nesta quarta (14) a decisão liminar que
determinou a instalação da CPI. Trata-se de ataque gratuito e covarde à corte,
que não poderá mostrar temor ante a bravata.
Do
mesmo modo, o Parlamento fica obrigado a reagir com altivez às ofensas
chulas dirigidas ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no
trecho da conversa tornado público por último.
Bolsonaro
depois deu a
entender que não esperava que a gravação do diálogo fosse ao ar,
versão que faz dele um tolo. Mas tampouco será demonstração de inteligência se
tudo ocorreu de caso pensado.
Mesmo
uma CPI inepta tem grande potencial de dano para o governo de turno, se este
não conseguir controlá-la com competência.
A
comissão da Covid, se de fato vier a operar (há dúvidas até se será presencial
ou não), trabalhará em terreno explosivo, como o evidenciam as dezenas de
pedidos de processos de impeachment de Bolsonaro a respeito dos quais o
presidente da Câmara deve uma decisão.
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