CPIs bem
focadas promovem ampla exposição de fatos até então encobertos por silêncio,
dissimulações e fraudes. Algumas CPIs fracassaram por má condução
Um
velho jargão parlamentar, atribuído a Ulysses Guimarães, sustenta que todos
sabem como começa uma comissão parlamentar de inquérito, mas ninguém sabe como
termina. A CPI da Covid-19 do Senado, porém, nem sabe ainda como vai começar,
embora já esteja no centro das tensões entre o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário, em razão da divulgação de uma gravação da conversa entre o senador
Kajuru (Cidadania-GO) e o presidente da República.
Na conversa, o presidente Jair Bolsonaro orienta o parlamentar a protegê-lo e direcionar a investigação contra governadores e prefeitos. De quebra, pede para Kajuru pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a decidir sobre seu pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Quem mais se beneficia dessa confusão é o presidente Bolsonaro. A Executiva do Cidadania, partido envolvido na polêmica, apoia a instalação da CPI e saiu em defesa do senador Alessandro Vieira(SE), mas não endossa que se investigue governadores e prefeitos. Além disso, repudiou a conversa de Kajuru com Bolsonaro e solicitou que o parlamentar deixasse a legenda.
CPIs
bem focadas promovem ampla exposição de fatos até então encobertos por
silêncio, dissimulações e fraudes. Algumas CPIs fracassaram por má condução,
como a do Futebol (2007) e a dos Cartões (2008). Outras foram bem-sucedidas,
como as CPIs da Corrupção (1988), do PC Farias (1992), dos Anões do Orçamento
(1993), do Judiciário (1989), do Banestado (2003), dos Correios (2005), dos
Bingos (2006), dos Sanguessugas (2006), do Apagão Aéreo (2007) e do Cachoeira
(2012). Às vezes, são algozes de seus protagonistas.
A
CPI não desmoralizou o Judiciário nem provocou abalos
institucionais. Apurou denúncias de crimes e corrupção que impactaram a
opinião pública, com destaque para a ligação do senador Luiz Estevão (MDB-DF,
cujo mandato foi cassado em 2000) com o desvio de R$ 169 milhões das obras de
construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, onde pontificava a
figura do “Juiz Lalau”: Nicolau dos Santos Neto, presidente da Corte, que foi
condenado a 26 anos de prisão pelos crimes de peculato, estelionato e corrupção
passiva.
ACM emergiu da CPI do Judiciário como paladino do combate à corrupção, porém não conseguiu manter a presidência do Senado em 2001, sendo substituído por Jader Barbalho (MDB). Os dois senadores viviam se digladiando e acabariam envolvidos no escândalo do Painel do Senado. ACM havia revelado a lista de todos que votaram contra e a favor de Luiz Estevão na sessão secreta que resultou na cassação do mandato do ex-senador, em junho de 2000. A crise culminou com as renúncias de Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, na época líder do governo no Senado.
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