Presidente
da Casa deve ler hoje requerimento de criação da comissão da covid, ordenada
por Barroso; governistas tentam evitar que Planalto seja alvo único da
investigação
BRASÍLIA
- Sob pressão do Palácio
do Planalto e na mira da oposição, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), anunciou que vai ler nesta
terça-feira, 13, o requerimento de criação da CPI da Covid, cumprindo ordem do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Nos últimos
dias, o presidente Jair Bolsonaro intensificou as
articulações para sair do foco e ampliar o escopo das investigações. O
movimento fez senadores governistas deflagrarem uma operação de guerra para
atropelar a CPI proposta originalmente, que tem como alvo as falhas cometidas
pelo governo federal na pandemia do novo coronavírus.
Em
menos de 12 horas um pedido para abertura de uma segunda CPI, desta vez
atingindo a atuação de governadores e prefeitos na crise sanitária, conseguiu
37 assinaturas, dez a mais do que as 27 necessárias. A estratégia para buscar
assinaturas para esta segunda CPI teve o apoio do Planalto e o requerimento foi
apresentado pelo senador Eduardo
Girão (Podemos-CE).
A manobra atende aos interesses de Bolsonaro, pois não deixa o governo federal como único alvo da CPI. O presidente também quer que os aliados incluam a conduta dos ministros do Supremo nas apurações. O problema é que o artigo 146 do regimento interno do Senado não dá amparo legal à ampliação dessas investigações. Diz o regimento que “não se admitirá Comissão Parlamentar de Inquérito sobre matérias pertinentes à Câmara dos Deputados; às atribuições do Poder Judiciário; aos Estados”.
Os
governistas, porém, lembram de outras CPIs em que Estados foram investigados,
como a da Amazônia, em 2019, e a do Metrô, em 2014. Sustentam, ainda, que a CPI
pode também mirar em Estados e municípios porque boa parte dos recursos
transferidos para o combate à pandemia é federal.
Pacheco avalia a possibilidade de ampliar o escopo das investigações e vai consultar a Secretaria-Geral da Mesa do Senado. A ordem do ministro Barroso, no entanto, foi específica para que fosse instalada a CPI nos moldes do pedido apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), tendo como foco apenas o governo federal.
O
clima político ficou ainda mais tenso depois que o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO)
divulgou a gravação de uma conversa por telefone com Bolsonaro, na noite de
sábado. Nela, o presidente pediu que o senador agisse para incluir governadores
e prefeitos na CPI, fazendo “desse limão uma limonada”. Na conversa, Bolsonaro
também atacou Randolfe Rodrigues. “Se você (Kajuru) não participa, vem a
canalhada lá do Randolfe Rodrigues para participar e vai começar a encher o
saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desses”, afirmou Bolsonaro
(mais informações na pág. A8).
Supremo
Diante
do impasse, o momento do início dos trabalhos da CPI também promete provocar
nova queda de braço. O plenário do Supremo se reúne amanhã e deve avalizar a
decisão liminar de Barroso que determinou a instalação da CPI da Covid. O Estadão apurou que o
presidente da Corte, Luiz Fux,
articula, porém, uma solução intermediária para evitar mais desgaste com o
Congresso. Por essa “saída”, o Supremo deve decidir que cabe ao presidente do
Senado definir quando a CPI será instalada e de que forma poderá
funcionar.
Aliados
de Bolsonaro dizem que é muito difícil uma CPI funcionar por meio de
videoconferência. “Por que é difícil? Hoje o meio eletrônico é o principal
método de investigações criminais”, disse o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que
deve ser indicado para relator da CPI.
O maior bloco do Senado é formado por MDB, PP e Republicanos, o que garante três vagas de titular na CPI. O segundo maior bloco é formado por PSDB, Podemos e PSL e também pode ter direito a duas ou três vagas. Já o PSD, que não tem bloco com ninguém, terá duas vagas, o que garante influência grande na CPI. O bloco DEM/PL/PSC pode ter uma ou duas vagas. Esse grupo é próximo do Planalto e vai indicar aliados do governo. / COLABOROU DANIEL WETERMAN
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