Governos acuados fazem reforma ministerial, mas para que serve a de Bolsonaro?
Além
de não perder uma, duas, mil chances de ficar calado, o presidente Jair Bolsonaro perdeu ótima
chance de fazer uma reforma ministerial para valer, com um embaixador
reconhecido internacionalmente no Itamaraty, um grande jurista no Ministério da Justiça e um, ou
uma, parlamentar de peso para fazer a articulação com o Congresso. Mas seria esperar muito. O
governo tem o tamanho de Bolsonaro.
Governo
acuado cria uma comissão e faz uma reforma ministerial. Bolsonaro não foge à
regra, mas a comissão (ou frente) de combate à pandemia produziu algo hilário:
todos falam uma língua para a sociedade, o presidente fala outra para a sua
seita na internet. E a reforma foi um remendo.
Com a tragédia da política externa de Bolsonaro, que mistura ideologia, crenças, implicância e burrice, o pior chanceler da história, Ernesto Araújo, deveria ser substituído por um embaixador de carreira com enorme prestígio no Itamaraty e pelo mundo afora. Nomes não faltam, mas o presidente preferiu um irrelevante, que siga o protocolo: “um manda, outro obedece”.
Quem
tem obsessão por mandar e vê inimigo por toda parte não consegue nomear alguém
de prestígio, que lhe faça sombra. Luiz Henrique Mandetta caiu da
Saúde mais pela popularidade do que por berrar que o coronavírus não era uma
gripezinha. Sérgio Moro deixou a Justiça por
ser adversário potencial em 2022, mais do que por reagir à mão pesada na
PF.
Bolsonaro
cedeu à pressão para demitir Ernesto Araújo, mas buscou na própria cozinha o
sucessor. O diplomata Carlos Alberto Franco França não
tem delírios ideológicos, não vê comunista embaixo da cama e não persegue
colegas. Ao contrário, é considerado um bom sujeito, com a cabeça no lugar.
Isso, porém, não basta para o posto máximo da diplomacia.
Como
Ernesto, França jamais ocupou uma embaixada, nem foi subsecretário, chefe de
Departamento ou cuidou dos grandes temas no Itamaraty. Passou pelos EUA quando
jovem, mas o forte do currículo são a Bolívia e o Cerimonial do Planalto,
quando o que o Brasil precisa é reconstruir relações despedaçadas com o governo
Joe Biden, China, Índia, Alemanha, França, Noruega, Argentina... E não só por
imagem e interlocução, mas por vacinas e medicamentos.
Para
a Justiça, Bolsonaro poderia ter nomeado um grande nome no mundo jurídico, mas,
ele foi buscar também na cozinha, ou melhor, na lista de amigos dos seus
filhos. Foi de lá que saiu o policial federal Anderson Torres, que já fora
cotado para diretor-geral da PF e agora vai chefiar a chefia da PF. Aliás,
Torres sai da Secretaria de Segurança do DF, onde teve contato privilegiado com
as polícias, alvos centrais do projeto de poder dos Bolsonaro. Na mesma semana
do anúncio de Torres para a Justiça e da demissão do ministro da Defesa e dos
três comandantes militares, o bolsonarista Major Vitor Hugo, líder do PSL,
apresentou, do nada, um projeto retirando dos governadores e jogando para o
presidente o comando das polícias. Coincidência?
Já
o pastor André Mendonça sai da Justiça e
volta para a Advocacia Geral da União (AGU), usando a Lei de Segurança Nacional
da ditadura contra críticos de Bolsonaro, como se Lula, Dilma, FHC, Collor e
Sarney nunca tivessem sido criticados. Além disso, teme-se que Mendonça assine
ações de Bolsonaro contra governadores que José Levy se recusou a assinar. E
Braga Neto tope fazer na Defesa o que o general Fernando Azevedo e Silva não
fez.
Na Secretaria de Governo, sai um general e entra a deputada Flávia Arruda. Chega de intermediários! O Centrão agora tem uma despachante dentro do Planalto para suas “demandas”. Ai de Bolsonaro se não atender! Isso lá é reforma ministerial? Ou só troca-troca? E quando Paulo Guedes cair?
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