Presidente
quer trilhões para mudança desenvolvimentista, a maior em 40 anos
Joe
Biden tem planos de mudar
a economia e a política americanas de um modo que não se via faz uns
40 anos. Mesmo que dê certo, não será reviravolta tão grande quanto a conduzida
por Ronald Reagan, até porque o presidente dos EUA teria de recuperar décadas
de terreno perdido para o extremismo de mercado e para a extrema direita. Mas
não é pouca porcaria.
Do
que se trata? De um programa nacional-desenvolvimentista, para resumir a coisa
de modo sarcástico, mas não muito. Biden lançou na semana passada o Plano
de Empregos Americanos, um projeto de gastar US$ 250 bilhões em cada um dos
próximos oito anos, um total de US$ 2 trilhões (o PIB do Brasil é algo perto de
US$ 1,6 trilhão).
No mês passado, o Congresso já aprovara o pacote de Biden para combater o desastre econômico da epidemia e suas consequências sociais duradouras, uma despesa de US$ 1,9 trilhão em um ano.
Ainda
virá um plano de US$ 1 trilhão para infância, saúde e educação, despesa a ser
bancada por aumento de impostos sobre renda, ganhos de capital e patrimônio de
ricos.
Os objetivos principais do Plano de Empregos Americanos são, óbvio, criar empregos, reconstruir a infraestrutura e enfrentar “os grandes desafios de nosso tempo”: a crise do clima e as “ambições de uma China autocrática”, como se lê no texto oficial de divulgação do projeto. Há apoio explícito à organização dos trabalhadores, direito derrotado até na Justiça e decadente faz décadas, um motivo do aumento da desigualdade nos EUA.
O
plano faz um grande elogio ao investimento público, que caiu mais de 40% desde
os anos 1960, quando o governo federal investia maciçamente em estradas, por
exemplo, e na corrida espacial, financiamento pesado de ciência, tecnologia e
da indústria americana. Outro objetivo claro é evitar que empresas exportem
empregos e lucros a fim de pagar menos impostos, que recorram a paraísos
fiscais ou se beneficiem de algum modo da desterritorialização dos negócios.
Biden tem batido na Amazon. Diz que seu plano é o começo do combate à evasão
fiscal internacional, para o que quer cooperação dos aliados.
O
plano seria financiado por aumento do imposto sobre empresas. Sob Donald Trump,
a alíquota caiu ao nível mais baixo desde a Segunda Guerra. Também viria muito
dinheiro do corte de benefícios para multinacionais e para combustíveis
fósseis. O aumento da tributação seria suave, dividido em parcelas pelos
próximos 15 anos.
Pretende-se
auxiliar comunidades prejudicadas pela desindustrialização e pela globalização,
um público em parte trumpista. Procura-se melhorar a vida de trabalhadores em
saúde e assistência social (muita vez mulheres negras), de idosos e
deficientes, de ex-combatentes; reformar escolas e creches.
As
maiores associações empresarias são, claro, contra o aumento de impostos, mas
não declararam guerra à Biden. Querem “negociar”.
Seja como for, Biden tenta arrancar raízes do trumpismo e planeja mudança que pode ter impacto grande na política, dos EUA e do mundo, nas ideias econômicas práticas e na imagem que se tem hoje do Estado.
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