O
presidente da República desperdiça seu ativo mais valioso: o tempo do mandato.
É impressionante a falta de foco e o empenho em desconstruir certos consensos
Antes
de mais nada, feliz Páscoa para todos. É uma data ecumênica por sua própria
origem, pois foi ressignificada pelos cristãos como um momento de renovação das
esperanças. A origem da Páscoa é o Pesach, a comemoração judaica da libertação
dos hebreus da escravidão do Egito. Narrada nos Pentateucos, os primeiros cinco
livros da Bíblia, em hebraico, a palavra significa “passagem” e faz menção ao
anjo da morte no Egito — a décima praga, conforme a narrativa bíblica. A festa
foi reinventada pelos cristãos, passando a se remeter à crucificação e à
ressurreição de Cristo.
“E,
se Cristo não ressuscitou, logo logo é vã a nossa pregação, e também é vã a
vossa fé”, diz o apóstolo Paulo, em I Coríntios 15:14. Na fé católica, foi por
meio da ressurreição que a humanidade teve a redenção de seus pecados. Jesus
Cristo sacrificou-se para redimir o povo e dar-lhe uma nova chance de salvação.
No seu sacrifício, o poder de Deus teria se manifestado.
Estamos encerrando a Semana Santa sem procissões nem missas campais, porém, plena de simbolismo. O Brasil vive uma das maiores tragédias de sua história, com uma média de mais de 3 mil mortos por dia nas últimas semanas, em razão do descontrole da pandemia da covid-19. Existe uma energia humana nos subterrâneos dessa tragédia social que, em algum momento, transbordará para as ruas. Essa resiliência, que seria traduzida nas cerimônias religiosas tradicionais, de alguma forma, acabará se transformando em manifestação política.
Além
do agravamento da crise sanitária, também há desorganização da economia. Não
estamos falando da redução das atividades econômicas em razão do distanciamento
social, mas da desestruturação das contas públicas e da falta de um projeto de
retomada do crescimento econômico. É um problema anterior à pandemia, mas que
se agravou com ela, principalmente agora, com a aprovação de um Orçamento da
União completamente fora da realidade, que agrava as dificuldades já existentes
e cria novos problemas, contratados para o pós-pandemia.
O
presidente da República desperdiça seu ativo mais valioso: o tempo do mandato.
É impressionante como a falta de foco e o empenho em desconstruir certos
consensos políticos — na política externa e na Defesa, no meio ambiente e na
segurança pública, no respeito aos direitos humanos e às minorias —, desloca a
ação do governo dos verdadeiros problemas do nosso desenvolvimento. A janela de
oportunidade das reformas, o primeiro ano de mandato, foi desperdiçada. Agora,
em plena pandemia, antecipou-se a disputa eleitoral, porque Bolsonaro conseguiu
fazer com que sua reeleição subisse no telhado.
A expectativa de poder está se deslocando de Bolsonaro para a oposição. Mesmo com os desgastes causados pela Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se coloca na arena em vantagem, ao comparar suas realizações de governo com as de Bolsonaro. A última proeza do presidente da República foi unir os demais pré-candidatos, no episódio de demissão do general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa e dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. O governador paulista João Doria (PSDB), o ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT), o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM), o empresário João Amoedo (Novo) e o comunicador Luciano Huck (sem partido) mandaram o recado: Bolsonaro, não! Podem não se unir no primeiro turno, mas estão contra a reeleição.
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