Valor Econômico
Ciro é carta na manga para negociar com
Lula
Apesar de estar desde o ano passado na
estrada com sua pré-candidatura pelo PDT à Presidência da República, só agora o
ex-ministro Ciro Gomes virou a bola da vez na terceira via. Todo o movimento
dos pré-candidatos da terceira via dava-se à revelia dele, que, depois da
inviabilidade da candidatura de Sergio Moro, é o único que se aproxima dos dois
dígitos.
Ciro virou o eixo do pessoal da terceira
via da noite para o dia. Já encontrou o pessoal do União Brasil e vai conversar
com Gilberto Kassab. Em sabatina do “UOL” e da “Folha de S.Paulo” confirmou o
encontro com o presidente do PSD sem precisar a data.
Ciro elogiou a pré-candidata do MDB, Simone
Tebet, e tem no senador Tasso Jereissati seu principal aliado no PSDB. Já disse
que senta pra conversar com todos da terceira via, só não fazia com Sergio Moro
quando o ex-juiz estava na roda.
O que está por trás desse assédio não é a viabilidade eleitoral do pré-candidato do PDT. Ciro não vai tão mal nas pesquisas, tem um eleitorado cativo, de ciristas militantes mesmo, é muito ativo nas redes sociais e atento à dinâmica da linguagem. Durante a sabatina escapou da pergunta sobre aborto (“não é tema do Executivo”) argumentando que o bolsonarismo faria uso distorcido de qualquer trecho de sua fala e isso se voltaria contra si.
Mas não é nada disso que explica o assédio
recente da terceira via sobre Ciro. Este assédio acontece num momento em que as
campanhas dos dois principais candidatos, e, principalmente, do candidato do
PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está em meio à negociação de
palanques estaduais, da equipe de campanha e distribuição de tarefas-chave como
a interlocução com empresariado e a formulação da política econômica.
Muitos desses políticos que assediam Ciro
neste momento o fazem para ter uma carta na manga para negociar com Lula. Estão
em disputa com o PT, seja pela cabeça de chapa ou pela vaga de vice num Estado,
seja pela vaga de senador em outro Estado. E aí, na tentativa de obter um
palanque mais favorável, tentam mostrar que têm uma alternativa a Lula.
O caso mais gritante talvez seja o MDB,
partido que é adversário histórico dos Gomes no Ceará e cujas principais
lideranças têm sido alvejadas por Ciro Gomes desde o primeiro governo petista.
Parece crível que o partido não forme maioria em torno da pré-candidatura da
senadora Simone Tebet (MS) por força dos lulistas do partido. Mas daí que isso
resulte num acordo com o pré-candidato do PDT vai uma distância gigante.
A mesma lógica se dá em relação aos
postos-chave da campanha. Esses candidatos a aliados de Lula já viram que não
adianta mais dizer que o PT precisa ampliar buscando outras forças políticas. O
discurso do vice de Lula, Geraldo Alckmin, no encontro com sindicalistas foi um
exemplo. Lula foi buscar Alckmin para que o ex-tucano levasse seu eleitor para
seu palanque, mas o discurso de Alckmin, rouco de tão estridente e cheio de elogios
a Lula, pode ter melhorado sua imagem junto aos sindicalistas, mas não parece
ser muito eficiente para levar seu eleitor a apoiar o petista.
Enfim, essa resistência do PT à ampliação
da candidatura Lula agora vai enfrentar essa investida da terceira via sobre
Ciro. É uma chantagem comum em tempos de campanha eleitoral. Dura quanto tempo
o blefe? Bem, talvez tenha vida curta, mas enquanto durar pode causar avarias
numa campanha, como a petista, cuja demora na definição da estratégia eleitoral
favorece o avanço de potenciais aliados que, no cumprimento das regras do jogo,
portam-se como adversários.
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