Diagnóstico de parte da bancada do PSDB é
que nem Doria nem Leite conseguirão reunificar a sigla
Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di
Cunto / Valor Econômico
Brasília - Em meio às divergências internas
sobre a pré-candidatura de João Doria (PSDB) à Presidência da República, uma
ala do PSDB passou a defender a tese de que o partido não apresente nenhum nome
para a corrida ao Palácio do Planalto e concentre energias e recursos em uma
estratégia que amplie as chances de vitória do governador de São Paulo, Rodrigo
Garcia (PSDB), que concorrerá à reeleição, e que viabilize um aumento da
bancada no Congresso Nacional. O grupo de Doria, que venceu as prévias feitas
pelo partido no ano passado, rechaça essa ideia.
O eventual abandono da disputa nacional
ganha adesões na bancada tucana, diante do diagnóstico de que tanto a
permanência de Doria como pré-candidato como a substituição do ex-governador
paulista por Eduardo Leite (PSDB) serão incapazes de reunificar a legenda
comandada por Bruno Araújo.
Segundo apurou o Valor, a sugestão deve ser
apresentada pelos parlamentares ao dirigente nacional como solução com
potencial de restabelecer a unidade da sigla. Isso é considerado essencial por
essa ala para que o partido não perca o controle do Estado de São Paulo, que
está nas mãos do PSDB desde 1995.
Além disso, o fim da crise interna é fundamental para que a legenda volte a ter uma bancada numerosa na Câmara dos Deputados. Hoje, o PSDB conta com apenas 23 parlamentares. Na eleição de 2014, quando Aécio Neves (PSDB) foi derrotado por Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da corrida presidencial, o partido elegeu 54 deputados.
Outro argumento apontado pelo grupo é que,
ao abrir mão, a legenda pode sair maior do que entrará na disputa eleitoral, já
que não terá que digerir nenhum desgaste por uma eventual candidatura que tenha
desempenho fraco nas urnas. Em 2018, o ex-governador Geraldo Alckmin, registrou
o pior desempenho do PSDB em eleições presidenciais ao conseguir apenas 4,7%
dos votos válidos. Provável candidato a vice na chapa encabeçada pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-tucano, hoje no PSB, teve
suporte de oito partidos além do PSDB na eleição de quatro anos atrás.
O argumento é que a eventual desistência
pode fortalecer a legenda, que assim poderia ganhar fôlego e ter mais
capilaridade para retomar o protagonismo na disputa de 2026 em um ambiente
menos polarizado.
Ainda que decida recuar sobre a
apresentação de um nome para participar da “prévia” que definirá o candidato
único do PSDB, Cidadania, União Brasil, a sigla tucana deve seguir com o grupo
de legendas de centro. Está descartada a possibilidade de se aproximar de Lula
ou do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em paralelo, o grupo alinhado a Leite
trabalha em um cronograma com medidas para pressionar Doria a desistir da
disputa estadual. O plano deve ser apresentado a Araújo, que foi retirado da
coordenação-geral da campanha do ex-governador de São Paulo, nos próximos dias.
Aliados de Doria e Leite relativizam essas
movimentações e ponderam que ainda é cedo para o PSDB abrir mão de lançar um
nome próprio. Destacam, porém, que os dois já deixaram claro, inclusive
publicamente, que poderiam abrir mão em favor de alguém com chances maiores de
vitória dentro das opções de terceira via.
Cientes dessa resistência, os defensores da
retirada da candidatura tucana avaliam propor a Doria, com o objetivo de
convencê-lo, que ele ocupe espaço de destaque na campanha aliada e seja um
quadro considerado para a Esplanada dos Ministérios, caso a candidatura única
do centro consiga superar a polarização e sair vitoriosa das urnas.
Integrantes desse grupo citam ainda que,
além do cenário complicado enfrentado por Garcia em São Paulo, especialmente em
função da presença do ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas
(Republicanos) na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o PSDB também corre
risco de perder o comando do governo gaúcho.
No limite, caso o governador Ranolfo Vieira
Júnior (PSDB) não consiga deslanchar nas pesquisas e avançar sobre postulantes
ao Palácio do Piratini apoiados por Lula e Bolsonaro, esse cenário poderia
levar a uma situação inusitada: forçar Leite a disputar uma reeleição e
concorrer a um novo mandato de quatro anos no Executivo estadual.
Reservadamente, aliados do gaúcho afirmam
que Leite não estaria descumprindo palavras ditas no passado, porque ele de
fato se desincompatibilizou do cargo. Caso retornasse para a disputa local,
argumentam, seria uma tentativa de eleição - e não de reeleição.
Entre aliados de Leite, a leitura feita é
que Doria não aceitaria ser substituído pelo ex-governador do Rio Grande do
Sul. No entanto, poderia apresentar menos resistência em deixar a corrida
presidencial se fosse para apoiar um pré-candidato de outra sigla.
Por sua vez, um importante aliado de Doria
corrobora com essa percepção ao reconhecer, em caráter reservado, que a
substituição pelo colega de partido só faria sentido “se Leite estivesse voando
nas pesquisas”, o que também não vem ocorrendo.
Em nota, Araújo admitiu que algumas alas
trabalham para que o PSDB não tenha candidatura própria, mas ponderou que
alguns correligionários já mudaram de ideia. “Nosso objetivo, ao contrário,
sempre foi tentar garantir uma candidatura própria, que evoluiu em determinado
momento para uma aliança política ampla, e fortalecer o partido em todo o
Brasil, incluindo São Paulo, que governamos há quase três décadas, com
resultados extraordinários”.
Coordenador-geral da campanha de Doria,
Marco Vinholi atribuiu o movimento a colocações públicas de Aécio, adversário
interno do paulista e apoiador do ex-governador do Rio Grande do Sul.
Ontem, a equipe de Doria divulgou um
manifesto, assinado por 73 advogadas, advogados e juristas, que defende que o
PSDB respeite o resultado das prévias realizadas em novembro de 2021, em que o
ex-governador paulista foi escolhido para ser candidato. No texto, os
signatários dizem que ignorar o resultado das prévias seria o mesmo que “rasgar
o estatuto” da sigla.
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