O Globo
A semana foi dura para três personagens da
extrema direita que ascenderam na esteira do capitão. Em Brasília, o Supremo
condenou o deputado Daniel Silveira por ameaças e incitação à violência contra
ministros da Corte. Em São Paulo, o deputado estadual Arthur do Val renunciou
para não ser cassado por quebra de decoro. No Rio, a Câmara Municipal anexou
novas provas ao processo contra o vereador Gabriel Monteiro, investigado por
assédio a assessores e menores de idade.
No caso de Silveira, a punição pode ser dupla. O brutamontes foi condenado a oito anos e nove meses de prisão, além da perda do mandato e dos direitos políticos. O Supremo concluiu que a imunidade parlamentar não pode servir de escudo para extremistas atentarem contra a democracia. Ontem Bolsonaro editou um decreto para perdoar o aliado, mas a palavra final ainda será dada pela Corte.
O ex-PM se projetou com um ato de
vandalismo: a quebra da placa com o nome da vereadora Marielle Franco, fuzilada
por milicianos em 2018. Eleito na onda bolsonarista, ele continuou a promover a
intolerância e a violência política. Fez apologia da ditadura militar, pregou o
fechamento do Supremo e incentivou sua tropa a agredir juízes do tribunal.
Silveira é uma versão anabolizada da
espécie que o cientista político Renato Lessa batizou de homo bolsonarus. Trata-se de um
tipo que despreza as instituições, abomina o debate civilizado e recorre à
truculência para se afirmar na cena pública. “O homo bolsonarus é um
fundamentalista em linha reta: quer logo abater o inimigo, sem tergiversar”,
definiu Lessa, em ensaio publicado na revista Serrote.
Sem compromisso com a coerência, esses
políticos invocam princípios democráticos, como a liberdade de expressão, para
justificar sua pregação autoritária. “O homo
bolsonarus quer fechar o Congresso, empastelar a imprensa,
ocupar militarmente o Poder Executivo e criminalizar os adversários políticos.
Tudo isso em nome da liberdade”, anotou o professor.
A condenação do deputado brucutu sugere que as instituições começaram, finalmente, a reagir aos ataques dos extremistas. O caso pode marcar o início do declínio do homo bolsonarus, mas ainda é cedo para celebrar a extinção da espécie. No ensaio publicado em 2020, Lessa alertou que o fenômeno deve sobreviver a uma eventual derrota do capitão. “Em alguma medida, ele permanecerá entre nós”, escreveu.
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