sexta-feira, 22 de abril de 2022

Kassab sinaliza desistência de candidatura própria do PSD à Presidência

Em giro nacional, iniciado nesta semana no Rio, presidente da sigla esteve com líderes do partido e avançou na articulação para liberar alianças nos estados. Intenção é não fazer coligação no primeiro turno, o que frustra PT

Bernardo Mello / O Globo

RIO — O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, iniciou nesta semana uma série de conversas com lideranças regionais do partido e sinalizou a desistência de lançar uma candidatura própria ao Palácio do Planalto. No Rio, terça-feira, Kassab e o prefeito Eduardo Paes (PSD) conversaram sobre liberar os estados para fazer palanques com diferentes presidenciáveis. O movimento frustra o PT, do ex-presidente Lula, que vem costurando apoios a candidatos do PSD em estados como Minas Gerais e Pernambuco na expectativa de fechar uma coligação nacional já no primeiro turno, algo que desagrada uma ala do partido.

Nas próximas semanas, Kassab deve reunir-se com os senadores Otto Alencar, da Bahia, e Omar Aziz, do Amazonas. Ambos já vinham manifestando apoio à candidatura presidencial de Lula, com aval da cúpula do PSD, mesmo quando o partido ensaiava ter candidato.

Sem um candidato próprio à Presidência, desejo inicial de Kassab, e com palanques estaduais liberados, o PSD tende a se aproximar de Lula em até 12 estados. Em seis, por outro lado, incluindo colégios eleitorais como Goiás e Paraná, a sigla pode se alinhar ao presidente Jair Bolsonaro.

Para interlocutores de Kassab, faltam hoje nomes com peso nacional e histórico na gestão pública que estejam dispostos a encabeçar uma chapa à Presidência pelo partido. Na avaliação desse grupo, o PSD tem cinco nomes que cumpririam esses requisitos: Paes, Otto Alencar, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), o governador do Paraná, Ratinho Jr., e o próprio Kassab. Nenhum deles topa a empreitada.

Pacheco se filiou à sigla em outubro com o intuito de concorrer ao Planalto, mas recuou no início deste ano. Kassab tentou convencer posteriormente os ex-governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (sem partido), a serem os presidenciáveis do PSD, mas recebeu negativas.

Paes, Alencar e Ratinho Jr. priorizam candidaturas estaduais e não mostraram interesse em concorrer à Presidência. Kassab, por sua vez, já disse a interlocutores que aspira disputar novamente um cargo eletivo, mas que não cogita fazê-lo enquanto tiver processos judiciais pendentes. No ano passado, a Justiça Eleitoral de São Paulo aceitou uma denúncia contra ele por suposto recebimento de recursos indevidos da JBS. Parte da acusação foi arquivada em março deste ano. Kassab nega ter recebido valores ilícitos. Sua última eleição foi à prefeitura de São Paulo em 2008.

“Porteira fechada”

Para atrair Kassab, Lula acenou com apoios a candidatos do PSD a governo e Senado, na tentativa de ampliar o grupo de quatro estados — Amazonas, Bahia, Piauí e Sergipe — em que a sigla já apoia o PT. Em Pernambuco, por exemplo, a cúpula petista deve recuar da indicação à vaga de senador na chapa ao governo de Danilo Cabral (PSB) para abrir espaço ao deputado André de Paula (PSD), cuja candidatura ao Senado anima Kassab. Além das direções nacionais de PT e PSD, as negociações estão bem encaminhadas com o governador Paulo Câmara (PSB), que já havia oferecido a vaga a De Paula pelos apoios nas eleições de 2018 e 2020.

— Os partidos delegaram ao governador a condução desse processo. Assim como aconteceu com Danilo (Cabral), o anúncio será feito no momento em que Paulo (Câmara) julgar adequado – afirmou De Paula.

Em Minas, onde Lula pretende apoiar Alexandre Kalil (PSD) ao governo, a sigla de Kassab tem se movido em sentido contrário à aliança formal com o PT. Além de não abrir mão da reeleição de Alexandre Silveira ao Senado, o PSD filiou o deputado Agostinho Patrus, provável vice de Kalil, tirando-o do PV. Com isso, o PSD se fechou numa “chapa pura”, condicionando uma aliança ao apoio com “porteira fechada”.

 

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