O Estado de S. Paulo.
Antes que Lula apresente na eleição suas
credenciais democráticas, seria importante esclarecer algumas de suas posições
históricas
O movimento de radicalização do presidente
Bolsonaro, em posição de extrema direita, em guerra contra as instituições
democráticas, terminou abrindo espaço para que Lula se coloque no centro do
espectro político, como se fosse ele o defensor da democracia. Não foi essa
historicamente sua posição, salvo em momentos cruciais de pragmatismo econômico
e político, nem tampouco a posição do PT, sempre propenso a criticar a
democracia burguesa, os capitalistas, os latifundiários e assim por diante.
A campanha lulista atual, em seus novos vídeos – aliás, muito bem feitos –, transmite a mensagem de conciliação, abraço, solidariedade e defesa das liberdades, quando nada disso fazia parte da narrativa de seu partido e de seu discurso. Este, ao contrário, caracterizava-se pela oposição, de cunho autoritário, entre amigos e inimigos, os ditos “progressistas” contra os “conservadores”, os “companheiros” contra os “burgueses”, os “sem-terra” contra os “latifundiários”. A propriedade privada, sobretudo no meio rural, foi liminarmente desconsiderada, um outro inimigo a ser destruído. Hordas armadas de armas brancas e, às vezes, de fogo, em táticas bem definidas, infernizavam os agricultores brasileiros. Em qual Lula acreditar? Aquele que defende verdadeiramente a democracia ou aquele que dela se utiliza para miná-la? Não caberia, aqui, ao menos um esclarecimento?
Agora, como antes, Lula e o PT não se
cansam de defender governos liberticidas, violentos, que prendem e matam,
oprimindo suas respectivas populações. Têm uma atração fatal por ditadores. Não
importa o continente, contanto que sejam “de esquerda”, como se ser de esquerda
fosse uma justificativa para qualquer tipo de arbitrariedade. Os bolcheviques,
na coletivização forçada, contra a propriedade privada e os camponeses e
agricultores, com Lenin e Trotsky e, depois, Stalin, provocaram uma fome
genocida assassinando milhões, com destaque para a fome vermelha na Ucrânia. E
eram elogiados pelos intelectuais ocidentais como sendo “revolucionários” e
“progressistas”. O assassinato coletivo tinha mudado de nome!
Hugo Chávez e Nicolás Maduro levaram a
Venezuela à ruína. O país foi literalmente destruído. As instituições
democráticas, arrasadas. A liberdade de imprensa, suprimida. A fome e os
salários miseráveis se espraiam por todos os lados. A população, tornada
escrava, vive acossada por milícias chavistas e forças policiais. Os cubanos
dão “assessoria” em como controlar e dominar estes novos súditos da esquerda. O
Supremo foi simplesmente aniquilado, assim como o livre exercício da oposição.
Todos os não chavistas são simplesmente considerados como inimigos a serem
abatidos. E o que fazem Lula e o PT? Defendem a democracia esquerdista e sua
luta contra o imperialismo americano! A opressão pelo terror mudou de nome!
Cuba continua sendo um símbolo da esquerda,
também em sua luta contra o “imperialismo”. Tudo em nome da guerra contra os
“ianques”. Uma ditadura brutal, que já assassinou milhares no paredón, e,
posteriormente, uma ditadura que não permite nenhum tipo de contestação, uma
ditadura que só privilegia uma pequena elite de burocratas comunistas é tida
por exemplo de democracia e de uma nova liberdade. Os liberticidas igualmente
mudaram de nome e os seus defensores brasileiros se comprazem com o
autoritarismo e a tirania. Todos os “companheiros” são solidários na
justificativa do arbítrio e da violência. Dá para confiar em tais defensores da
democracia?
Lula, presidente, tinha uma especial
predileção por ditadores africanos, cancelando dívidas para com o Brasil em
nome da fome, quando eles nada mais faziam que utilizar quaisquer recursos
“populares” ou de empréstimos com o intuito de comprarem armas para suas
guerras tribais, para comprarem mansões na França e na Inglaterra e abrirem
contas em paraísos fiscais. No entanto, eram “de esquerda”, “progressistas” e
“amigos” a serem defendidos e apoiados. Lula mantém ainda a mesma posição?
A corrupção grassou nos governos petistas.
A Petrobras tornou-se um antro de desvio de recursos para a apropriação
partidária, tendo sido praticamente sucateada, não fosse o seu soerguimento no
governo Temer, graças a uma gestão profissional e transparente. Que Lula se
diga defensor da Petrobras soa ao escárnio, tendo em vista o que o PT fez com
essa estatal. Também aqui os discursos foram grandiloquentes em investimentos
que se mostraram ineficientes, fonte de desperdício, para além do
superfaturamento de obras, como a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O que
ele está bem nos prometendo? Um governo verdadeiramente democrático pressupõe o
controle público e transparente de recursos públicos, os que provêm dos
impostos. A democracia significa instituições republicanas voltadas para o bem
público, e não privado ou partidário.
Antes que Lula apresente eleitoralmente suas credenciais democráticas, seria importante o esclarecimento dessas suas posições, para o bem do Brasil e de nossa democracia.
*Professor de filosofia na UFRGS
Um comentário:
O pior é que tudo que você escreveu é verdade,mas o pior ainda é que Bolsonaro consegue ser muito pior.
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