Valor Econômico
Na bolsa se joga, se ganha e se perde.
Façam suas apostas
Com a bola já rolando no Catar, o ímpeto
seria relaxar e escrever apenas sobre a Copa do Mundo, seu duvidoso impacto
econômico e questões históricas desse megaevento.
Mas há fatos relevantes no Brasil, que se
prepara para a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Mais
importante que os duelos do Catar é o duelo fiscal que se dá aqui, onde duas
correntes, ambas apoiadoras de Lula no segundo turno da eleição, tentam
influenciar a política econômica do novo governo.
Teve enorme repercussão em todas as mídias
a carta aberta ao presidente eleito escrita pelos economistas Pedro Malan,
Arminio Fraga e Edmar Bacha. Em tom respeitoso, esses três “pais do Real”
alertaram Lula para o risco de que sua atuação venha a criar “problemas maiores
do que os que queremos resolver”. A preocupação deles surgiu com a alta do
dólar e a queda da bolsa decorrentes do discurso de Lula na COP27. Pela
avaliação do trio signatário, ele teria dado a entender que a responsabilidade
fiscal representa um obstáculo ao “nobre anseio da responsabilidade social”.
Teve pouca repercussão nas mídias,
principalmente na grande, outra carta ao presidente eleito, escrita por um
quinteto de economistas: Luiz Carlos Bresser-Pereira, José Luis da Costa
Oreiro, Luiz Fernando Rodrigues de Paula, Kalinka Martins da Silva e Luiz
Carlos Garcia Magalhães. Esses quatro “Luízes” e a professora Kalinka, novos
desenvolvimentistas, procuram fazer um “contraponto” à carta dos três pais do
Real.
O ponto central do alerta do trio é sobre a extinção do teto de gastos, um preceito constitucional que, na opinião desses economistas, “não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos”, ao contrário do que sustentou Lula. O Brasil paga juros altíssimos, segundo eles, porque “não é percebido como um bom devedor, seja pela via de um eventual calote direto, seja através da inflação, como ocorreu recentemente”. O trio passa a ideia de que a revogação do teto de gastos pode provocar uma onda inflacionária em razão de efeitos na desvalorização cambial, na redução de salários e na vida dos trabalhadores em geral.
O quinteto discorda dessa visão. Chama de
“falácia” a ideia de que o teto é fundamental para garantir a disciplina
fiscal. Isso porque ele se mostrou incapaz de impedir que o governo Bolsonaro
realizasse um volume de gastos extrateto de R$ 795 bilhões. Inclusive gastos
eleitorais vedados pela Constituição, sob a complacência do mercado financeiro.
O quinteto também classifica como
“equivocada” a afirmação do trio de que o Brasil paga altíssimos juros porque
“não é percebido como bom devedor”. Para fundamentar a crítica, cita o
principal indicador do risco envolvido ao emprestar dinheiro para governos
soberanos, o Embi+, calculado pelo banco J.P. Morgan. Em 2 de janeiro de 2003,
primeiro dia útil do primeiro mandato de Lula, esse índice estava em 1.374
b.p., ou seja, um spread de 13,74% sobre a taxa de juros dos títulos da dívida
pública americana. Oito anos depois, em 31/12/2010, último dia do segundo
governo Lula, o índice havia caído para 189 b.p, (spread de 1,89%). Segundo o
quinteto, isso é “prova inconteste da confiança do mercado na responsabilidade
fiscal do governo Lula”.
Será que esse histórico de disciplina basta
para garantir a responsabilidade fiscal agora? A pergunta é feita na própria
carta do trio do Real, que responde “não”: “A verdade é que os discursos e
nomeações recentes e a PEC ora em discussão sugerem que não basta. Desculpe-nos
a franqueza”.
As críticas de Lula ao setor financeiro são
contestadas na carta do trio: “O setor financeiro recebe juros, sim, mas presta
serviços e repassa boa parte dos juros para o resto da economia, que lá
deposita seus recursos”.
Mas o quinteto entende que os juros (13,75%
ao ano) poderiam ser muito mais baixos no Brasil, porque a política monetária e
fiscal do país tem capacidade restrita de intervir no processo inflacionário
hoje gerado fora do país. A inflação em 12 meses na União Europeia estava em
11,25% em outubro, quase o dobro da brasileira. Na Alemanha, era de 11,6% no
mesmo período, e, nos EUA, de 7,7%. E os juros estão em 0,75% na UE e 3% a
3,25% nos EUA.
Com juros a 13,75%, o quinteto
desenvolvimentista faz um alerta a Lula sobre o custo da dívida pública, um
“elemento ausente” no debate do ajuste fiscal. Em 2022, esses gastos serão de
R$ 500 bilhões e, em 2023, de R$ 700 bilhões. Esse seria “o maior programa de
transferência de renda do mundo, só que uma transferência para o 1% mais rico
do país”. O complexo das taxas de juros, segundo o quinteto, é “uma anomalia na
comparação com o resto do mundo”, porque não decorre de elevado endividamento
público, hoje em 77%, nada alarmante em nível internacional - na Espanha, por
exemplo, é de 118%.
Esse duelo fiscal está apenas começando -
nos últimos anos predominou o discurso fiscalista - e vai se expandir no
Congresso nas próximas semanas, na discussão da PEC da Transição. Não deixa de
ser um avanço que as citações da responsabilidade fiscal venham agora sempre
aliadas à social. Ao longo dos debates haverá certamente novos impactos na
bolsa. É bom lembrar, porém, que a bolsa, além de fonte relevante de capitais,
é um grande campo onde se joga, se ganha e se perde. Façam suas apostas.
Copa do Mundo
Já em clima de Copa e abandonando o duelo
fiscal, vale arriscar palpites sobre os jogos. A boa seleção brasileira tem
chance de título, mas precisa abandonar o cai-cai adotado na Copa de 2018,
principalmente por Neymar. As falsas quedas e contusões, consentidas pela
arbitragem no Brasil, são punidas nas copas. E uma expulsão por simulações pode
custar um título.
Com exceção da polêmica convocação do
lateral direito Daniel Alves, as escolhas do técnico Tite tiveram apoio
generalizado. Estão distantes os tempos de desavenças de torcedores sobre os
escolhidos quando a maioria dos jogadores atuava no Brasil. Naquela época, o
partidarismo clubístico falava mais alto, e geralmente a seleção saía do Brasil
para as Copas debaixo de críticas.
Desta vez, há quase unanimidade no apoio
aos escolhidos e a seleção inicia a Copa quinta-feira credenciada ao hexa.
Infelizmente, a história mostra que têm mais chances de título seleções que
saem do Brasil desacreditadas.
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