domingo, 22 de maio de 2022

Bruno Boghossian: A economia nas mãos do centrão

Folha de S. Paulo

Ministro diz que fica em 2º mandato, mas sobrevivência depende dos partidos aliados

Paulo Guedes entregou as chaves do Ministério da Economia para o centrão. Num evento com investidores, o chefe da pasta afirmou que pode continuar no cargo em 2023, mas reconheceu que essa permanência não depende só da reeleição de Jair Bolsonaro. A condição, segundo ele, seria a vitória de uma coalizão de centro-direita –uma maneira cerimoniosa de descrever os partidos que mantêm o governo de pé.

A lógica de Guedes é a seguinte: Bolsonaro "ganhou sozinho" a eleição de 2018, mas a tal aliança de centro-direita avançou e passou a apoiar uma agenda de reformas no Congresso. Não é bem assim, mas o ministro indica que esse consórcio será o responsável por ditar o ritmo da agenda econômica num eventual segundo mandato do presidente.

Na prática, Guedes reconheceu (talvez por acidente) que precisa do centrão para continuar no poder. Não é pouca coisa, considerando a aversão que nutria pelos congressistas no início do governo e a indiferença com que os políticos do grupo encaram o ministro desde então.

Aí entra um arranjo que parece preservar a convivência entre os dois lados. No mesmo salão em que avisou que pretende ficar no cargo, Guedes citou a privatização da Eletrobras como exemplo dessa gestão. Só não mencionou que, para aprovar o projeto, o ministério teve que dar aval a uma série de penduricalhos elaborados para atender aos interesses políticos do centrão.

Não é só. No início do ano, Bolsonaro tirou poderes de Guedes sobre os cofres do governo e deu a Ciro Nogueira (Casa Civil) a palavra final sobre o que é gasto. Nesta semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira, driblou o ministro da Economia e decidiu tocar praticamente sozinho um projeto que reduz impostos sobre combustíveis e energia.

Guedes continua vivo porque enverniza o governo Bolsonaro, mas mesmo esse ativo tende a perder valor numa eleição disputada em tempos difíceis na economia. Se houver um segundo mandato, essa agenda deve ficar nas mãos do centrão.

 

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