O Estado de S. Paulo
A pergunta que grita e não quer calar, em face da criminosa invasão das sedes dos Poderes da República, é como explicar que todas as autoridades responsáveis não tenham levado a sério as notícias que há dias circulavam nas redes sociais e anunciavam que haveria nesses dias – próximos da data simbólica da invasão do Capitólio nos Estados Unidos – um novo e grave atentado contra a democracia brasileira? Os chamados “bolsonaristas radicais” anunciaram com antecedência que estavam preparando caravanas de centenas de ônibus em direção a Brasília para realizar uma mudança de estratégia de sua ação de contestação golpista dos resultados da eleição de 2022. A desmobilização em frente dos quartéis militares não foi uma ação política de reconhecimento de que seus participantes estavam errados, mas uma ação de preparo para o que aconteceu ontem, o questionamento e a deslegitimação das instituições democráticas – Executivo, Legislativo e STF. Só não viu que isso estava sendo preparado quem não quis.
Diante disso, é um erro que a intervenção
federal no governo do DF seja apenas sobre o setor de segurança. Ibaneis Rocha
tinha dado suficientes indícios de que sabia que tudo podia acontecer, e não
fez nada – a não ser demitir o secretário de Segurança depois que o leite tinha
sido derramado. Houve omissão do governador.
Mas a gravidade do que aconteceu em
Brasília não se restringe às responsabilidades das autoridades do DF. É sabido
que o governo federal também sabia que a ação golpista estava sendo preparada.
É estranho que, em face dessas informações, a Polícia Federal não tenha sido
mobilizada. Outra pergunta delicada se refere ao setor de inteligência do
governo federal: esse setor não foi acionado? O que explica que não tivesse
produzido as informações para que o ministro da Justiça e mesmo o presidente da
República pudessem agir com a antecedência devida em preparação à loucura
coletiva que ocorreu em Brasília?
Foi inexperiência ou incompetência das
novas autoridades?
A democracia brasileira sobreviveu bem aos
atentados que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou contra ela, e isso em
grande parte pela ação das instituições democráticas. Mas sempre se soube que
os que não aceitaram os resultados das eleições se preparavam para atacálas. A
invasão de ontem teve um significado simbólico claro, o de contestar a
democracia e o estado de direito democrático. O governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva deve levar isso em conta se quiser responder de maneira
correta ao que está acontecendo no País.
*Cientista Político
Um comentário:
Mais claro que o dia.
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