Valor Econômico
Ameaça à segurança nacional ultrapassou os
limites da praça dos Três Poderes
A intervenção decretada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva no Distrito Federal agilizará as prisões dos
terroristas que invadiram os palácios do poder nesse domingo, as
responsabilidades pela invasão e seu financiamento, mas não atinge a letargia
da reação do Exército.
A Força tem dois batalhões que se revezam
no subsolo do Palácio do Planalto, o Regimento de Cavalaria de Guarda e o
Batalhão da Guarda Presidencial. As duas Forças respondem ao Comando Militar do
Planalto e têm, como sua função primeira, a proteção do palácio presidencial.
Se a Polícia Militar deixou passar os 170 ônibus que chegaram ao Distrito Federal com os invasores, o Exército não poderia ter falhado em impedir que eles chegassem ao gabinete presidencial e depredassem o Palácio do Planalto. Faltou comando para movê-los no cumprimento de suas funções. Os invasores já dominavam o palácio presidencial quando as forças do Comando Militar do Planalto resolveram reagir. A atuação desta tropa independe de decretação de operação de Garantia da Lei e da Ordem.
Apesar de ter acontecido num domingo,
quando os palácios estavam desocupados, foi a extensão do ataque à sede do
Executivo e ao Supremo Tribunal Federal que diferencia os eventos deste domingo
daqueles que alvejaram o Capitólio, sede do Congresso americano em 6 de janeiro
de 2020, às vésperas da posse do presidente americano Joe Biden.
O comportamento da Polícia Militar custou a
intervenção na área de segurança do Distrito Federal. O governador Ibaneis
Rocha não apenas deixou de agir para evitar a invasão como evidenciou o complô
que já havia ficado claro com o convite para que o ex-ministro da Justiça
Anderson Torres assumisse a secretaria de Segurança do Distrito Federal, a
despeito de sua adesão ao golpismo bolsonarista no Ministério da Justiça.
A desautorização de Ibaneis e o pedido de
prisão de Torres aumentam os poderes do atual ministro da Justiça, Flávio Dino.
O interventor, Ricardo Garcia Capelli, secretário-executivo do MJ e
ex-secretário de Comunicação do governo do Maranhão, é uma extensão de Dino.
Se todas essas ações demonstram a ofensiva
sobre o governo do Distrito Federal, ainda que por um prazo de apenas 23 dias,
já que a intervenção vai apenas até o dia 31, restam por ser esclarecidas as
atitudes a serem tomadas em relação à atuação do Exército.
A omissão da Polícia Militar do Distrito
Federal pode ser resolvida com a intervenção do Distrito Federal, que foi
decretada pelo presidente da República e terá que ser aprovada pelo Congresso
Nacional, já convocado pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco. O senador do
PSD de Minas volta ao Brasil nesta segunda-feira para este fim.
Já a omissão do Exército depende da ação do
comandante da Força e do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Esta omissão
já vinha patente desde as manifestações em frente aos quartéis.
Se o ministro da Justiça, Flávio Dino, precipitou-se
em elogiar o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, pela segurança da
posse, quando Anderson Torres já havia sido escolhido para a Segurança, o
ministro José Múcio também errou na complacência com as manifestações em frente
aos quartéis, sobre as quais chegou a dizer que tinham a participação de seus
familiares e eram marcadas pelo caráter democrático.
A ameaça à segurança nacional não se
limitou à invasão dos Três Poderes. Avançou para parar, literalmente, o país
com a tentativa de invasão da Refinaria de Canoas, no Rio Grande do Sul. O
Gabinete de Segurança Institucional detectou a tentativa de invasão não apenas
desta refinaria mas também das refinarias Presidente Vargas, em Araucária (PR),
e a Refinaria Duque de Caxias, no município homônimo, no Rio de Janeiro.
A contenção da investida terrorista é
dificultada pela presença de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro em setores
da inteligência da estatal. A reação da estatal também é dificultada pelo
controle do atual Conselho de Administração por Bolsonaro.
Se o Brasil viveu nesse domingo seu
“Capitólio” isso apenas se saberá se o país proceder à apuração de
responsabilidades e à responsabilização dos envolvidos. Mais de 700 pessoas já
foram presas nos Estados Unidos acusadas de envolvimento nos atos de 6 de
janeiro de 2020, muito embora ainda se aguarde a acusação criminal contra o
ex-presidente Donald Trump.
Se está em curso, desde o segundo turno das
eleições, uma operação para dar um salvo-conduto a Bolsonaro, as invasões deste
8 de janeiro o tornam mais improvável. A firme condenação do presidente Joe
Biden às invasões também dificulta a manutenção do quartel-general do golpismo
na Flórida.
O isolamento de Bolsonaro também aumentou
internamente. Das três principais lideranças que apoiaram sua reeleição, o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o presidente do PL, Valdemar Costa
Neto, e o ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, apenas este último não veio
a público para condenar os ataques.
Um comentário:
Análise correta da colunista.
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