O Globo
A notícia é que Lula teria resolvido se
mexer. Informa-se que irá a campo trabalhar pela articulação política de seu
governo. Estamos em junho. Estava parado? Ou se mexia mal?
Mexendo-se sempre está o Parlamento,
energia que faz o volume do tanque baixar. Arthur Lira explica:
— Hoje o governo tem contado com a boa
vontade desses partidos que estão votando republicanamente. Esse combustível
está acabando.
Comunica-se que a rapaziada tem votado no
amor, voto de confiança, mas que a gasolina não está barata; e que não serão
esses republicanos a reabastecer. E então Lula entrará em cena, decorridos
cinco meses de boa vontade. Estava parado? Ou se mexia mal?
Delegar também é movimento; não sendo possível crer que Alexandre Padilha e Rui Costa tenham agido até aqui sem o aval do presidente. Lula vai a campo e os coloca na panela. Não é possível saber a altura do fogo; nem quão incompetentes seriam. Sabe-se que o Congresso Lira quer as cadeiras dos ministros.
Lula vai a campo — e não são muitas as
opções para que articule. Sabe-se também que entregar cabeças compõe o
instrumental da negociação política.
O presidente é o dono dos assentos, domina
a prática e conhece a demanda. Que nem sempre foi essa. A cousa era mais
simples — a pedida: para que o governo honrasse a palavra e desse fluência
automática à distribuição dos dinheiros das emendas conforme indicações dos
deputados. Não faltaram alertas explícitos — de Elmar Nascimento e do próprio
Lira, várias vezes. Que puseram sobre os ombros de Padilha e Costa a carga de
responsáveis pelo trânsito interrompido. Os ministros travaram o ritmo das
liberações — atraiçoaram o compromisso — por conta própria?
No curso dos últimos quatro anos, o
Congresso se tornou gestor autônomo de fundos orçamentários — e não aceita
sócios. Ao Executivo cabendo exclusivamente soltar as granas. Ponto. Firmou-se
um acordo a respeito. O Planalto aceitara dançar a música no mesmo tom em que
Bolsonaro havia pervertido as relações com o Parlamento. E depois quis tocar em
outra nota. Foi quando rachou o vestiário.
A exigência se tornou mais complexa — e
cara — porque o governo Lula se comprometera com um jogo cujas regras
descumpriria. Não é vítima; certamente não inocente. Topou conjugar verbos numa
linguagem em que o pretenso mais esperto fica suscetível a chantagens. Fez
pacto com o capeta — com o sistema do orçamento secreto — e armou contra o
arranjo. Esse é o fundamento da crise acirrada na relação entre Planalto e
Parlamento.
O governo, longe de ser leve, traiu acordo
com a barra-pesada. Difícil sendo acreditar que o presidente desconhecesse o
combinado e a tentativa de caloteá-lo.
O que fora combinado, até formalizado na
Lei Orçamentária Anual? Que se driblaria o Supremo com a transferência dos
bilhões outrora sob emendas do relator (RP9) para os cuidados — fachada — dos
ministérios (RP2), permanecendo os dinheiros, como se propriedade privada, para
que exclusivamente os parlamentares lhes pudessem indicar os destinos. Esse é o
centro do contrato — entre governo e Congresso — em função do qual se aprovaria
a bilionária PEC da Transição, ainda em dezembro. Um contrato de continuidade
relativamente à prática de Bolsonaro.
Empossado, no entanto, o novo governo
decidiu testar o pilar do acerto que lhe dera viabilidade econômica e passou a
segurar, dificultar mesmo, a liberação das emendas, em seguida pretendendo
influir no — participar do — destino das granas. Tentou trapacear cobra criada
numa floresta em que lobo não come lobo.
E então vem Lula a campo. No momento em que
já não bastará apenas fazer as emendas desaguarem. O governo — de Padilha e
Costa — avaliou que poderia brincar de ciranda com o Orçamento. Era dança das
cadeiras. O preço subiu; ganhou corpo. Confiança é fundamental. O governo — de
Lula — fará o quê? A pressão mudou de grau; agora é por reforma no Planalto.
Não adiantará trocar juscelino por sabino,
senão em nome de semanas de refresco. A comunicação é outra e clara. Questão de
credibilidade. A turma quer um ciro nogueira no palácio, cuidando do giro das
emendas desde dentro. Não será mais somente pagar. Mas pagar, sem filtros ou
escalas, sob operador preposto pelos donos do Parlamento. Questão de
credibilidade.
E então vem Lula a campo. Para quê?
Imagina-se que não para ficar exposto. A margem é estreita. Para quê? Para
demitir Rui Costa e Alexandre Padilha? Gerindo o prejuízo, só um deles? E fará
o acordo — pelo fluxo automático do orçamento secreto — ser afinal cumprido?
Quem seria o ciro nogueira? Lula fará como Bolsonaro? É o que deseja o
Congresso Lira. Um novo frentista, dedo frouxo na bomba. O combustível está
acabando.
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