Folha de S. Paulo
Fazer do STF a banca de advogados do
Planalto é arranjo malvisto
Carece de melhor esclarecimento a
declaração do presidente da República, dada há dias, de que não pretende
repetir erros do passado na indicação
de ministros ao Supremo Tribunal
Federal. Qual seria exatamente a ideia?...
Lula não explicou onde acha que errou, mas a escolha do advogado pessoal para integrar a corte fornece pista robusta, quase uma prova de que considera a independência dos magistrados uma falha no exercício da guarda constitucional.
Ao expressar arrependimento, ele dá margem
a tal interpretação. Pior: confere ares de veracidade à versão corrente segundo
a qual o Executivo cogita firmar aliança com o Judiciário, a fim de superar as
dificuldades com o Poder
Legislativo.
A se confirmar essa intenção, a tradução
dela seria a de que o governo planeja fazer do STF um atalho, colocando os
ministros na condição de pajens do Planalto na tarefa de compensar
dificuldades nas tratativas com deputados e senadores.
Não parece que possa dar certo. Embora hoje
os juízes sejam vistos como participantes do embate político e objetos de
julgamento em suas decisões, uma aliança explícita seria obviamente malvista,
além de agressiva ao princípio da autonomia equipotente dos Poderes.
Numa breve consulta às internas do
tribunal, constata-se rejeição ao suposto plano. Seria "o fim do
mundo", diz um ministro. Outro reserva-se o direito de silenciar ante a
ideia, o que em si já é uma resposta. Um terceiro permite-se sugestão melhor que
a de investir na formação de um Supremo "amigo", algo semelhante a
uma bancada da toga.
"Melhor seria que [Legislativo e
Executivo] se entendessem e não viessem a nós com tanta frequência, pois o
Supremo não é banca de advogados. As demandas chegam, somos obrigados a
responder e, com isso, viramos alvos de insultos, nunca de
reconhecimento", analisa o magistrado.
Recados dados, na corte espera-se que sejam
anotados.
Um comentário:
O problema é que com esse congresso que aí está não há governo que governa.Quer dizer,só se o governo for retrógrado também.
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