Folha de S. Paulo
Condenação vai alimentar ainda mais seu
radicalismo
Batido o martelo da inelegibilidade,
Bolsonaro terá de fazer uma espécie de harmonização facial, trocando o radicalismo
político pela moderação. Será possível? Se ele conseguir, veremos um milagre,
um escorpião desnaturado que não pica mais o sapo na travessia do rio.
Mais uma vez, ressalte-se: o único responsável pela condenação no TSE foi o próprio Jair Messias Bolsonaro, autor da brilhante ideia de convocar a reunião com os diplomatas e que, mesmo desaconselhado, levou o plano adiante. Não houve ofensa no julgamento, como querem os bolsonaristas, tampouco conspiração entre os Poderes. Ao contrário: entre julho de 2021 e agosto de 2022, pouco depois do encontro no Palácio da Alvorada, o Judiciário alertou o ex-presidente ao menos 31 vezes sobre a punição por ataques ao sistema eleitoral. Ele não quis ouvir, mais interessado em manter alta a temperatura golpista.
Em entrevista, o capitão afirmou que tem
uma "bala de prata" para 2026, mas não revelou qual seria. A
candidatura de Tarcísio de Freitas? A de Romeu Zema? A de Ratinho Jr.? A de
Michelle? Ou uma virada de mesa no Supremo? Deve ser a mesma bala de prata que
ele garantiu ter engatilhada na agulha para reverter a vantagem de Lula e
conseguir a reeleição.
Os sinais de descrédito em relação a Bolsonaro
são nítidos. A repórter Anna
Virginia Balloussier mostrou que, nas igrejas evangélicas, o apoio ao ex-presidente
arrefeceu. Nas redes sociais, o julgamento no TSE não mobilizou as milícias nem
os robôs. Nos dias de votação, os perfis de extrema direita não fizeram
qualquer pressão, como se já esperassem o placar adverso. Voltaram suas
baterias para defender a rádio Jovem Pan, investigada por desinformação e
conteúdos antidemocráticos, e aplaudir o apresentador Tiago Pavinatto, que está
na mira da Advocacia-Geral da União.
A não ser que o tal Pavinatto seja a arma
secreta de Bolsonaro.
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