Folha de S. Paulo
Interferência de políticos no Judiciário não
é bem recebida pela maioria das pessoas
Ainda que a reprovação
ao STF (Supremo Tribunal Federal) tenha aumentado 7 pontos nos últimos 12 meses,
como indica pesquisa Datafolha realizada
no dia 5 de dezembro, o avanço do Congresso contra
o Supremo é visto com desconfiança por parte expressiva da população.
No final de novembro, o
Senado aprovou a PEC 8/2021, cujo principal objetivo é limitar decisões
monocráticas no STF.
Na mesma semana, entrevistei trabalhadores de diversas localidades e matizes
ideológicos sobre a atuação da corte.
Praticamente todos concordam que o STF concentra muito poder. Vários apontam a necessidade de revisão das práticas do tribunal e criticam os interesses que orientam a indicação dos ministros. Um eleitor de Lula, por exemplo, afirma que as escolhas dos membros do tribunal são permeadas por uma "guerra de interesses", e um eleitor de Jair Bolsonaro defende a abolição da indicação presidencial.
Eleitores de Bolsonaro, como esperado, tendem
a ser mais enfáticos em sua rejeição ao STF. Expressões como "acham
que são donos de tudo", "mandam mais que o presidente" e
"acham que estão acima do bem e do mal" são utilizadas com frequência
para classificar a atuação de seus ministros.
Após o 8 de
janeiro, a rejeição ao STF se tornou o mote central de bolsonaristas. Logo
após a aprovação da PEC 8/2021 pelo Senado, milhares
se reuniram no domingo, dia 26, em um protesto na avenida Paulista em
virtude da morte
de Cleriston Pereira da Cunha, preso na Papuda pela participação nos atos
golpistas em Brasília. A tentativa de tornar Cunha um mártir do 8 de janeiro
era clara. Alexandre
de Moraes, tido como seu algoz, foi alvo de brados em uníssono:
"Assassino, assassino!".
No entanto, a interferência
de políticos no Judiciário não é bem recebida pela maioria das pessoas
que entrevistei. A posição de uma professora católica do Rio Grande do Sul, que
não votou nem em Bolsonaro e nem no PT nas últimas
duas eleições presidenciais,
sintetiza o sentimento predominante: "Tem coisas que precisam ser
revistas, mas não é o momento de tirar o poder do STF. Não vai ser benéfico
para a população. Isso é apenas interesse próprio dos políticos".
Outra entrevistada, que também não é alinhada
a Bolsonaro ou Lula, é ainda mais enfática acerca da tramitação da PEC:
"Não concordo. A lei tem que ser cumprida à risca. Vão rasgar a
Constituição e ficamos à mercê dos deputados e políticos. A população é sempre
deixada de lado".
A ideia de que interferências de políticos na
atuação do Judiciário representam uma ameaça e um retrocesso são
frequentes entre
quem não votou em Bolsonaro. Contudo, até mesmo eleitores do militar, por
vezes, são mais cautelosos. Um evangélico de 32 anos, de São Luís (MA), que
votou em Bolsonaro nos dois turnos em 2018 e 2022, por exemplo, acha que
diminuir "canetadas" dos membros da corte pode ser algo interessante,
já que, em suas palavras, "às vezes os ministros buscam notoriedade, e não
a legalidade". A despeito disso, considerou que "não deveria haver
uma interferência muito grande no Judiciário".
Ao que tudo indica, a disposição do
presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP) em acirrar as tensões com o STF pode
aumentar a desconfiança em relação ao Congresso e
piorar a divisão política e a intolerância no país.
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