O Globo
Chegaram à capital argentina o ex-presidente Jair Bolsonaro, o
primeiro ministro da Hungria, Viktor Orbán, o ex-candidato presidencial chileno
José Antonio Kast, e o líder do partido espanhol Vox Santiago Abascal, entre
outros
A posse do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, neste
domingo, transformou Buenos Aires, pela primeira vez, numa espécie de sede da
extrema-direita internacional. Nas últimas 48 horas chegaram à capital
argentina o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro — junto a um enorme grupo
de familiares e aliados —, o primeiro ministro da Hungria, Viktor Orbán, o
ex-candidato presidencial chileno José Antonio Kast, o líder do partido
espanhol Vox Santiago Abascal, o nome que lidera uma emergente extrema direita
mexicana, o outsider Eduardo Verástegui, e o ministro de Segurança do governo
de El Salvador, Gustavo Villatoro, enviado pelo presidente Nayib Bukele.
O primeiro em reunir-se com Milei foi Bolsonaro, acompanhado por seu filho, Eduardo Bolsonaro, e um grupo de colaboradores. Também participou do encontro a futura ministra da Segurança, Patricia Bullrich, uma das principais aliados políticas do presidente eleito. Depois de ter se descolado de Bolsonaro em sua própria campanha eleitoral pela Presidência, Bullrich esteve com o ex-presidente brasileiro, tirou fotos e trocou ideias com a tropa bolsonarista que desembarcou em Buenos Aires. O ex-presidente também se encontrou com o também ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), outra peça chave da aliança — ainda informal — de governo entre Milei e seus parceiros políticos.
Na noite de sexta-feira, várias das lideranças de extrema-direita
internacionais se reuniram no restaurante Rodizio, no bairro turístico de Porto
Madero. Participaram do jantar Bolsonaro e todo o grupo que o acompanha,
deputados do partido de Milei, A Liberdade Avança, e Kast.
Neste sábado, Bolsonaro e Orbán se encontraram em Buenos Aires. O
ex-presidente brasileiro e o primeiro ministro da Hungria confirmaram a notícia
em suas redes sociais, nas quais postaram uma foto juntos. "Estamos em
Buenos Aires para comemorar a grande vitória do presidente @JMilei. Tive o
prazer de conhecer meu grande amigo, presidente @jairbolsonaro. A direita está
crescendo não só na Europa, mas em todo o mundo!", escreveu Orbán, em sua
conta na rede X (Ex-Twitter). Bolsonaro retuitou o post e acrescentou: "O
prazer é meu, Primeiro Ministro. É sempre bom te ver e é incrível ler essas
palavras! 🇧🇷 🤝 🇭🇺!".
O site de notícias La Derecha Diario, comandado por Fernando
Cerimedo, um dos estrategistas da campanha de Milei, se referiu às visitas
internacionais como “reuniões que podem ser um divisor de águas na cooperação
entre as diferentes forças mundiais [de extrema direita]”.
As articulações de Milei com aliados estrangeiros como Orbán,
Bolsonaro e Kast preocupam o governo brasileiro. Num cenário de eventual
vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, em 2024, fontes
do governo Lula afirmaram que um provável “eixo Washington-Buenos Aires terá
enorme impacto na região”.
Algo similar aconteceu na década de 90, quando o governo do
peronista de direita Carlos Menem (1989-1999), considerado o melhor governo da
História da Argentina pelo presidente eleito, estabeleceu o que chamou de
relações carnais com os EUA. A diferença é que naquela época não existia o grau
de polarização política que existe hoje, e a aproximação da Argentina aos EUA
não colocou em risco a relação com o Brasil, e tampouco a sobrevivência de
blocos como o Mercosul.
Hoje, acrescentou a fonte, a situação seria muito diferente. Os
alinhamentos de Milei podem levar ao fim do Mercosul, fracasso da política de
integração sul-americana de Lula, enfraquecimento da Comunidade de Estados
Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e provável não incorporação da Argentina
aos Brics (grupo formado por Brasil, China, Índia, África do Sul e Rússia),
entre outros riscos.
Outra presença internacional em Buenos Aires que causou mal estar
em Brasília foi a do presidente da Ucrânia, Volodymir
Zelensky, cuja agenda ainda não foi revelada por motivos de
segurança. O chefe de Estado ucraniano propôs a Milei a realização de uma
cúpula entre Ucrânia e países da América Latina, e Buenos Aires poderia ser
sede do encontro. O Brasil, disse uma fonte do governo Lula, não participaria.
A Argentina de Milei é vista pelo Palácio do Planalto como “um polo que servirá para reagrupar forças de extrema direita do mundo todo”. Uma péssima notícia para Lula, que apostou na continuidade do peronismo e agora deverá conviver com um novo governo argentino que tem posições antagônicas em matéria de política externa.
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