domingo, 6 de outubro de 2024

Bernardo Mello Franco – Nem um nem outro

O Globo

Profecia de "terceiro turno" em 2024 não se confirmou; Centrão deve ter mais vitórias nas capitais

No fim do ano passado, Lula arriscou uma profecia para 2024: “Eu sinceramente acho que vai acontecer um fenômeno: vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando essas eleições no município”.

A julgar pelas últimas pesquisas, a previsão não deve se confirmar. A disputa pelas prefeituras envolveu temas nacionais, mas passou longe de se reduzir a um terceiro turno da última corrida presidencial.

O próprio Lula preferiu manter distância dos palanques. Em todo o país, candidatos do PT tiveram que se contentar com vídeos gravados em Brasília. O presidente só apareceu ao lado de Guilherme Boulos, que concorre pelo PSOL em São Paulo.

Na reta final do primeiro turno, ele emendou viagens internacionais para Estados Unidos e México. Um bom pretexto para não dar as caras em cidades onde seus aliados vão mal nas pesquisas.

Bolsonaro percorreu o país, mas deve sofrer derrotas amargas. No Rio, seu berço político, Alexandre Ramagem ensaia um desempenho pífio. O último Datafolha, divulgado ontem, projetou vitória de Eduardo Paes no primeiro turno.

A disputa carioca mostra como as eleições municipais desviaram da polarização nacional. O prefeito teve apoio de Lula, mas não exibiu sua imagem na propaganda. Com isso, escapou da polarização ideológica e amarrou a campanha aos temas da cidade. “Uns me acusam de ser de direita, outros de esquerda. Eu sou Rio de Janeiro”, recitou, no debate da TV Globo.

Outros candidatos à reeleição adotaram a mesma estratégia. Em Salvador, o carlista Bruno Reis se coligou ao PL, mas tentou evitar a associação com Bolsonaro. “Minha aliança é com o povo”, desconversou o prefeito, que também é favorito para vencer neste domingo.

Na capital paulista, a eleição esquentou com uma disputa fratricida na direita. O prefeito Ricardo Nunes e o coach Pablo Marçal chegam às urnas em empate técnico nas pesquisas. Brigam pelo eleitorado antipetista, que votou em Bolsonaro nas últimas corridas presidenciais.

Com medo do carimbo de derrotado, o ex-presidente manteve um pé em cada canoa. Indicou o vice de Nunes, mas declarou que ele não era seu “candidato dos sonhos”. Presenteou Marçal com a medalha de “imbrochável”, mas passou a criticá-lo quando farejou o risco de ser ofuscado em seu próprio campo.

Oportunista, Bolsonaro parece esperar os resultados para dizer a quem apoiou. No entanto, quem for ao segundo turno não terá dívidas com ele. Se Nunes se mantiver na disputa, o mérito será do governador Tarcísio de Freitas. Se Marçal chegar lá, só terá que agradecer a si mesmo.

A última fornada de pesquisas sugere que os grandes vitoriosos deste domingo devem ser mesmo os partidos do Centrão. Siglas como União Brasil, MDB e PSD tendem a encabeçar os rankings de prefeitos eleitos nas capitais. Essa turma não costuma se guiar por veleidades ideológicas e não tem dificuldades para mudar de time no plano nacional. Entre Lula e Bolsonaro, sempre escolherá o lado de quem venceu.

 

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