Em primeiro
lugar, o engessamento sem precedentes de nossa execução orçamentária com o
crescimento exponencial das despesas obrigatórias. A margem de liberdade do
presidente da República, seja ele quem for, para implantar seu programa de
governo é cada vez menor, tendendo a zero.
Em segundo, a produção continuada de déficits
primários, que são verificados desde 2014, e se repetirá em 2025, mesmo com o
enorme esforço arrecadatório do governo, que propôs ao Congresso Nacional dois
pacotes visando o aumento de impostos em 2023 e 2025.
Em terceiro
lugar, o veloz crescimento da relação entre a dívida pública e o PIB, uma das
maiores entre os países emergentes e latino-americanos. Para estancar o
crescimento da dívida pública precisaríamos de um superávit primário de 2,1%,
mas continuamos no vermelho.
Em quarto, a compressão absoluta da margem de
investimentos em inovação tecnológica e infraestrutura - muito aquém das
necessidades nacionais - vetores essenciais para o aumento da produtividade,
imperativo para um país que deseja superar a armadilha da renda média e assiste
o acelerado fim de seu bônus demográfico. São rodovias, ferrovias, portos,
aeroportos, moradia, saneamento, projetos de irrigação, soluções energéticas,
projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em áreas essenciais, que
deixam de ser feitos e sacrificam o futuro brasileiro.
Por último, a
perda de consistência do arcabouço fiscal como regra disciplinadora das
finanças públicas e âncora das expectativas dos atores econômicos relevantes.
As mudanças de metas e a exclusão de determinadas despesas da apuração do teto
de gastos e das metas fiscais comprometem o seu papel de sinalizador da solidez
da política fiscal. Os tomadores de decisão e as informações que embasam suas
atitudes tendem a se concentrar nos resultados primários efetivos e na dinâmica
de crescimento da dívida pública, tornando ineficaz o arcabouço fiscal.
O Orçamento
proposto para 2026 é baseado em parâmetros e números excessivamente otimistas,
que dificilmente serão referendados pela realidade. Crescimento do PIB
superestimado (2,4%), inflação subestimada (3,6%), despesas projetadas abaixo
do provável.
Além disso, diversas
medidas de aumento de receitas ainda dependem de aprovação pelo Congresso
Nacional: Medida Provisória 1303/2025 (tributação de aplicações financeiras
antes isentas, aumento da tributação sobre fintechs e BETs, controle de
utilização dos créditos tributários), PLC 182/2025 (revisão de benefícios tributários)
e PL 1087/2025 (que isenta o IRPF das faixas de menor renda e estabelece
compensações para que o efeito fiscal seja neutro). As receitas esperadas
dependerão do grau de desidratação das propostas originais enviadas pelo
governo.
Fato é, que fica cada vez mais clara a necessidade inadiável de uma profunda mudança na estrutura das finanças públicas brasileiras.
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