Valor Econômico
Polêmica em comercial comprova resultado de
pesquisa que mostra eleitor preso em moldura de 2022
O responsável pela pesquisas Quaest, Felipe
Nunes, é um dos principais teóricos da tese de que há um processo de
calcificação do eleitorado brasileiro em uma polarização entre lulismo e
bolsonarismo semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos, sem muito espaço para
guinadas no curso da corrida eleitoral.
A mais recente pesquisa divulgada em conjunto com o banco de investimentos Genial, com dados coletados de 11 a 14 de dezembro, alimenta esta tese, adicionando a ela uma outra camada: a sensação entre os pesquisados que se está diante de um fenômeno inevitável.
A rigor, a polarização é discernível a olho
nu, sem necessidade de que uma pesquisa seja dissecada. A guerra de engajamento
esta semana nas redes sociais provocada por uma propaganda das sandálias
Havaianas em que a atriz Fernanda Torres exortava os consumidores a não
entrarem em 2026 com o pé direito é ilustrativa. Nas últimas horas não houve
político focado no mundo digital que não tenha festejado ou deplorado o
comercial da empresa. Possivelmente aquele que é o calçado mais comum do
brasileiro tornou-se esta semana o mais comentado.
A pesquisa mostra que os eleitores que se
dizem independentes e os bolsonaristas concordam em ao menos um ponto: ambos os
segmentos enxergam o Brasil encarcerado pela polarização nacional estabelecida
em 2022. De acordo com o levantamento, este consenso nacional é quebrado apenas
pelo eleitor lulista, onde a maioria dos seus integrantes entendem que o país
avançou em direção a outras pautas.
De acordo com as pesquisas deste instituto,
os independentes representam a maior parte do eleitorado: 32%, ante 21% da
“direita não bolsonarista”, 12% de bolsonaristas, 14% da “esquerda não lulista”
e 19% dos lulistas. E em outras rodadas, os integrantes deixaram claro um
sentimento de exaustão com a polarização. Há um crescimento entre estes
eleitores dos que se dizem indecisos, dispostos a não votar, simpatizantes por
uma terceira via ou por um “outsider”. Mas para 65% deles, não há saída, o país
está preso na polarização.
É um cenário análogo ao desenho animado
“Caverna do Dragão”, que fez muito sucesso nos anos 80. Na animação , um grupo
de jovens passa várias temporadas tentando sair de um mundo distópico, sem
nunca encontrar um caminho.
A sensação de que a polarização persiste é de
62% no eleitorado total, o que representa aproximadamente a soma dos que
optaram pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou pelo senador Flavio
Bolsonaro (PL-RJ) na maioria dos cenários eleitorais testados na pesquisa. A
dupla foi de 55% no quadro de maior dispersão, com oito nomes testados, a 65%
no de maior concentração, com quatro nomes.
O fato do maior percentual de constatação de
polarização-84%- ser registrado no segmento “direita não bolsonarista” é um
indicativo de que há um movimento gravitacional que favorece a um comportamento
binário do eleitor, por mais que a falta de ânimo do eleitorado oposicionista
com a escolha de Flávio Bolsonaro como representante da direita no cenário de
2026 seja evidente.
Estes resultados confluem para a sinalização
da pesquisa de que há poucos lulistas ou bolsonaristas arrependidos. Segundo o
levantamento, 83% dos pesquisados dizem que não se arrependem do voto que deram
em 2022. É uma queda de apenas cinco pontos percentuais em relação ao
registrado em dezembro de 2023. O total de arrependidos oscilou no período de
6% para 8%.
De 2022 para cá o ex-presidente Jair
Bolsonaro foi tornado inelegível, processado, julgado, condenado e preso e não
resta mais dúvidas de que está fora do processo eleitoral do próximo ano. Mesmo
assim, mais da metade do eleitorado -55%- afirma acreditar que o ex-presidente
hoje é uma liderança política “forte ou “muito forte”. Em relação a Lula, 71%
dizem o mesmo. Somente 41% veem Bolsonaro hoje “fraco” ou “muito fraco” ( no
caso, de Lula, 26%).
Se Bolsonaro mesmo atrás das grades é visto
como forte, não há sinal mais claro de que sua liderança persiste, ainda que sem
a aura de martírio que seus propagandistas acreditavam que o ex-presidente iria
se revestir depois de sua condenação.

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