Valdo Cruz
Ao anunciar o detalhamento dos cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento, o governo deu uma aula de como perder a guerra das expectativas, fundamental para convencer os agentes econômicos de que manterá a inflação sob controle.
Em entrevista tumultuada ontem, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) anunciaram medidas de consistência duvidosa, tentaram relativizar a importância dos cortes no combate à inflação e se preocuparam mais em dizer que a política econômica não mudou.
Mais parecia um discurso dirigido ao mundo petista, e não ao mercado, que duvidou de saída da capacidade do governo de executar o corte de R$ 50 bilhões.
Dúvida que se refletiu nas previsões sobre a inflação de 2011, que se mantiveram em alta desde a divulgação dos cortes há 20 dias, contrariando a expectativa inicial do governo de deter o pessimismo na economia.
Em sua fala inicial, Guido Mantega mostrou-se mais preocupado em rebater avaliações de que o governo tomou um caminho ortodoxo na economia."Fica essa confusão, o ministro mudou, o ministro não é mais aquele, fico preocupado com essas coisas."
Seguindo essa trilha, chegou a dizer que o objetivo principal do ajuste fiscal "não é exatamente a inflação", discurso não muito afinado ao que reina no Palácio do Planalto, preocupado em garantir que não deixará o Banco Central sozinho no combate à inflação.
De seu lado, Miriam Belchior se irritou com os insistentes questionamentos dos jornalistas sobre a consistência de cortes por meio de combate a fraudes no seguro-desemprego e ajuste fino nos gastos de pessoal.
"Vou repetir pela terceira vez", afirmando que não anunciava nenhuma "missão impossível".
Faltou os ministros lembrarem que o ajuste fiscal já tem data para ser revisto.
Um corte extra de R$ 2,2 bilhões terá de ser feito por conta do reajuste de 4,5% da tabela do Imposto de Renda na fonte, ainda não previsto no Orçamento deste ano.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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