O último relatório do Boletim Focus, do Banco Central (divulgado na manhã de segunda-feira) sobre o comportamento da inflação, feito com base em depoimentos de economistas ligados às instituições financeiras e que elevou pela sétima vez consecutiva a projeção da taxa deste ano para 6,34%, já quase no limite superior da meta oficial, induziu a presidente Dilma Rousseff, no mesmo dia a nova manifestação de compromisso com o controle do processo inflacionário. Usando a mesma veemência de manifestações anteriores (“Não haverá em hipótese alguma desmobilização do governo diante da inflação”), mas, igualmente, sendo recebida com ceticismo e desconfiança pelo mercado e pela grande maioria dos analistas.
Por duas razões básicas. Porque o combate “acirrado”, mais uma vez prometido, centra-se na combinação de objetivos, basicamente eleitorais, considerados incompatíveis na atual conjuntura: a contenção das fortes pressões inflacionárias, externas e internas, de par com um crescimento entre 4,5% e 5%, em grande medida sustentado pelo crédito de instituições governamentais. E, também, porque o governo segue mantendo o altíssimo patamar dos gastos públicos, sobretudo das despesas correntes, herdado da administração antecessora e a ser agravado por despesas futuras já comprometidas. Resistindo reiteradamente a um corte efetivo desses gastos.
Com a persistência desse legado populista do lulismo (que inclui um estatismo reforçado por recente decisão da nova presidente de ampliar ainda mais o controle governamental sobre as agências reguladoras de serviços públicos), cresce a ameaça concreta de uma inflação em torno de 7% este ano e próxima disso em 2012. O que, se confirmado, representará a perda de uma relevante conquista econômica e social do país, de 1995 em diante: um consistente controle inflacionário. E quanto ao equilíbrio das contas públicas – outra conquista importante do período – poderá ser buscado e até obtido (por vias tortas) com mais aumento da carga tributária. Esta sim, a de inflação e de impostos mais altos, uma combinação viável, mas de efeitos danosos para as atividades produtivas e para o conjunto da população, bem como de implicações eleitorais de elevado risco para o situacionismo federal. O que – apostemos nisso – poderá pressionar a presidente a uma reorientação da política econômica de seu governo.
Reorientação que se inspire numa perspectiva como a da medida articulada pelo chefe da Casa Civil, Antonio Palocci – e a anunciada ontem no encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – da concessão à iniciativa privada das obras de reforma e ampliação dos aeroportos de Cumbica, Viracopos, Brasília, Galeão e Confins, já com acerto de gestão privada plena por 20 anos para os três primeiros. Passo essencial para a ampliação e a modernização do sistema aeroportuário, até agora bloqueado pela conjunção da “justificativa” de preservação do controle estatal/militar do sistema, com o burocratismo da Infraero e a carência de recursos públicos. Mas, enfim, dado (o passo) por configurar-se como única alternativa capaz de evitar (outra) implicação eleitoralmente perigosa para o governo: o colapso desse sistema nos megaeventos esportivos de 2014 e 2016.
Jarbas de Holanda é jornalista
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