quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nova queda:: Míriam Leitão

Os primeiros indicadores que estão saindo do mês de outubro mostram que a economia continua fraca depois do PIB zero do terceiro trimestre. Na terça-feira, o IBGE divulgou 0% nas vendas do varejo em outubro; ontem, deu -0,32% o IBC-Br, do mesmo mês, indicador recentemente desenvolvido pelo Banco Central para analisar o nível de atividade e antecipar o PIB.

Foi a terceira queda seguida do IBC-Br, desde agosto. Mas a expectativa continua sendo que nos dois últimos meses do ano haja alguma recuperação, em função da queda dos juros e de algumas medidas de incentivo ao consumo. O conjunto de medidas do governo tinha mais incentivo ao exportador do que ao consumo, mesmo assim espera-se alta no índice, ainda que modesta.

As vendas do comércio não cresceram entre setembro e outubro e um dos motivos que desanimou o consumidor foi a alta da inflação: ela corroeu a renda e, assim, fez o trabalho de conter o consumo da pior forma. O que aconteceu com o varejo mostra que a inflação mais alta pode ser o pior freio para a atividade. Isso torna mais complexo o debate sobre a atuação do Banco Central. O o economista-sênior do banco HSBC, Constantin Jancso, explica que principalmente a inflação de serviços afetou o consumo das famílias.

- O consumo foi muito importante para manter o crescimento depois da crise de 2008. Mas a alta dos serviços está afetando a renda e esse é um gasto difícil de sofrer corte. Quem comprou uma TV de LCD não vai cortar o pacote de TV por assinatura. O natural é que ele adie outros gastos. Isso afeta o varejo – disse

O BC começou a reduzir os juros quando anteviu o agravamento da crise internacional e a parada no PIB. Foi criticado, inclusive aqui nesta coluna. A economia estava no mais difícil momento para se tomar a decisão de reduzir os juros, porque a inflação estava alta - ainda está acima do teto da meta - mas já estava contratada a desaceleração da atividade.

Há quem tenha criticado o BC no começo do ano, quando ele subiu juros diante da previsão de aceleração inflacionária. Ele estava certo, porque a inflação subiu muito, estourou o teto da meta. Se tivesse reduzido mais cedo, ele não teria evitado o PIB zero do terceiro trimestre ou a contração de outubro. Poderia, na verdade, ter piorado a situação porque a inflação quando reduz a renda real acaba sendo também um freio no consumo e no crescimento.

A aposta do BC de reduzir juros em agosto, em vez de parar para ver, era de que o cenário internacional pioraria tanto que a inflação cederia pela queda das commodities. Até agora, a crise da Europa piorou muito, algumas commodities caíram, mas os alimentos estão novamente puxando a inflação que está sob risco de terminar o ano acima da meta. Se a inflação cair, como prevê o governo, será mais fácil reativar a economia no ano que vem.

O economista Alexandre Maia, da Gap Asset, explica que a desaceleração ao longo do ano aconteceu por várias vias: inflação mais alta, que corroeu a renda das famílias; crise na Europa que adiou investimentos dos empresários; aumento de juros, retenção de gastos do governo e medidas de restrição ao crédito no início do ano. Maia acredita que a partir de novembro tanto a indústria quanto o comércio voltarão a crescer.

- Os três meses de agosto a outubro foram piores que os três meses de julho a setembro. Mas já temos indicadores antecedentes de novembro que mostram que a indústria e o comércio devem se recuperar. Mas ainda será uma recuperação sobre uma base baixa - disse Maia.

Os dados consolidados de novembro ainda não foram divulgados e dezembro é um mês em curso. Mas a GAP Asset estima alta de 0,4% no quarto trimestre sobre o terceiro tri, enquanto o HSBC estima 0,3%. Olhando para 2012, o banco espera alta de 3,7% no PIB e 5,4% na inflação. A GAP prevê 3,2% de PIB e 5,2% de inflação. Esses números mostram que o ano que vem deve começar num ritmo fraco e ir acelerando, ao contrário do que foi 2011. A boa notícia é que as projeções indicam uma inflação em queda, em 12 meses, e um PIB em alta.

- A inflação deve continuar caindo, dos 6,64% de novembro para 5,5% logo no primeiro trimestre do ano que vem. Mas, a partir daí, a taxa vai encontrar uma certa resistência, para fechar o ano nesse patamar. Já o PIB deve ter um primeiro semestre morno, para acelerar no segundo. Mas isso tudo dentro de um cenário sem ruptura na Zona do Euro - explicou Jancso.

O IBC-Br de outubro confirma que este foi um ano de perda de velocidade. No início de 2011, as previsões do Boletim Focus - que resume as percepções do mercado - eram de crescimento de 4,5%. Durante o ano, os economistas voltaram aos cálculos para reduzir a previsão do PIB. Ontem, novamente. A maioria das projeções mal se sustenta nos 3%. É possível que o PIB fique mais baixo do que isso. Em grande parte esse desempenho é consequência da confusa e assustadora crise do euro. O problema vai continuar afetando a economia brasileira nos próximos meses e isso torna mais incerto o cenário sobre o ano que vem.

FONTE: O GLOBO

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