Na hora do escândalo é que se enxerga com mais nitidez a divisão: no governo há os ministros do PT e há os outros.
Os petistas, viajantes na primeira classe, têm direito a proteção contra convocações ao Congresso e declarações enfáticas em defesa de suas reputações.
Os demais (o resto?) recebem uma palavra de alento e a orientação para que compareçam a tantas comissões quantas forem necessárias Conforme o caso, um afago na despedida. Comum a todos é depois a citação nos bastidores sobre as dificuldades de a presidente promover uma faxina com tanta gente de baixo calibre à sua volta.
Antônio Palocci mereceu mobilização de guerra para barrar sua convocação durante os 23 dias em que resistiu no cargo insistindo que o segredo sobre os nomes de seus clientes de consultoria às paredes pertencia.
Vida privada, negócios particulares e ninguém tem nada com isso, argumentava a tropa.
Esse ataque frontal à exigência de transparência imposta à administração pública e aos seus integrantes, imposta pela Constituição, é repetido agora pela presidente da República em pessoa.
Em momento de péssimo exemplo à nação em geral e em particular aos que enxergam nela um bastião do combate à impunidade, Dilma Rousseff declarou que o ministro do Desenvolvimento não precisa dar satisfações a respeito de fatos que ela entende pertencerem à vida pessoal de Fernando Pimentel.
"Se achar que deve ir (ao Congresso), pode ir. Se achar que não deve ir, não vai", encerrou o assunto, deixando nas mãos do alvo de desconfiança a decisão.
Pimentel de imediato fez coro à saída gentilmente fornecida e recuou da posição da semana passada de ir ao Parlamento "assim que convocado" e declarou que não vai. Na retaguarda, a maioria governista garante número nas comissões para que de fato não vá.
Há dois aspectos a observar. O primeiro, a adoção de pesos e medidas diferentes para lidar com casos de suspeições envolvendo ministros.
O argumento de que os negócios de Pimentel não têm nada a ver com o governo não convence. As consultorias que derrubaram Palocci tampouco foram prestadas no período em que era ministro.
Ademais, a reputação de um ministro é, por óbvio, assunto de governo.
O segundo aspecto a ser observado guarda relação com os esclarecimentos em si. Ao contrário do que declaram ministro e presidente, as dúvidas não foram todas dirimidas.
Pimentel não explicou, por exemplo, por que prestou consultorias de R$ 400 mil, R$ 500 mil, sem contrato ou por que seus trabalhos não produzem relatórios ou qualquer registro por escrito que possa ser utilizado pelo cliente como orientação sobre o tema consultado.
Dando por findo o assunto, Pimentel deixa espaço aberto à desconfiança de que houve mesmo tráfico de influência, uma vez que parte dos pagamentos foi feita quando ele já era um dos mais importantes assessores da então candidata Dilma Rousseff, cotado para integrar o ministério.
Se esse tipo de coisa não diz respeito a governo, o que, então, dirá?
Contramão. Ocorre no Rio um caso bem simbólico das dificuldades que haverá para a aplicação da lei de acesso à informação recentemente aprovada e que entra em vigor em maio de 2012, obrigando o Estado a abrir aos cidadãos qualquer dado que não esteja sob sigilo.
O governador Sérgio Cabral recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar limitar o direito dos deputados estaduais de pedirem informações de governo. Segundo Cabral, a quantidade de pedidos é excessiva. Macula, nas palavras dele, "a harmonia institucional" e cria "embaraços à rotina administrativa".
De fato, sem deputados, senadores e quem sabe, o público (pagante) para importunar, fica bem mais fácil.
Pirão primeiro. A briga de petistas, baianos e pemedebistas na Caixa Econômica Federal afeta as decisões administrativas do banco, repercute em votações no Congresso e é um exemplo pronto e acabado do mal que o loteamento faz.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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