sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Um mercado de trabalho exótico:: Vinicius Torres Freire

Apesar de um semestre de estagnação econômica, deterioração do emprego foi pequena

O mercado de trabalho brasileiro pareceu um tanto exótico nos meses finais de 2011. Assemelha-se um pouco com o de 2006, 2007, mas de cabeça para baixo.

Naqueles anos, mesmo com a retomada do crescimento, a taxa de desemprego ficaria entre uns 9% e 10%. No ano da desaceleração rápida do PIB de 2011, o desemprego médio ficou em 6%.

O emprego tem lá suas manhas e defasagens em relação ao ritmo da economia, decerto.

Além do mais, embora o crescimento da economia tenha baixado de 7,5% (2010) para prováveis 2,7% (2011), no reino do consumo das famílias estivemos vivendo em outro país.

Por fim, a taxa de desemprego ela mesma conta uma história apenas parcial sobre o mercado de trabalho. Ainda assim.

É claro que o mundo do emprego reagiu à freada do PIB. Em outubro de 2010, a massa salarial (total dos salários) crescia 11% (ante o mesmo ano do mês anterior, em termos reais: descontada a inflação). Em meados de 2011, o ritmo caíra para os ainda impressionantes 6%. Em dezembro, subiu 3,4%.

A ocupação (número de pessoas com trabalho) crescia a 4,4% em maio de 2011 (ritmo trimestral anualizado); agora, anda a 1%, nas contas dos economistas do Bradesco.

A tendência do ritmo de alta do salário é de baixa desde abril de 2010. Mas, no ano passado, o salário médio ainda cresceu tanto quanto o PIB. A taxa de desemprego é, porém, a menor desde 2002 (quando começa a série nova do IBGE), mas deve ser a menor em décadas.

Em geral, a reação do emprego é mesmo defasada: cai primeiro o crescimento, a seguir a renda do trabalho sobe menos ou cai e, então, o desemprego começa a aumentar.

No entanto, depois da rateada de setembro e outubro, a renda do trabalho voltou a aumentar no bimestre final do ano, em especial nos setores econômicos que não estão expostos à concorrência externa.

No início deste ano, a taxa de desemprego tende a aumentar -mas se trata de aumento "sazonal", típico do período. Mas o aumento vai ser apenas o "sazonal"?

Se for esse o caso, o ritmo do aumento da massa salarial e do rendimento médio continuará cadente? Isto é, os novos empregos vão pagar menos e/ou os reajustes serão menores? Será possível manter durante muito mais tempo uma taxa de desemprego baixa sem aumentos adicionais, excessivos, de consumo?

As perguntas postas assim são relevantes devido ao problema da inflação, claro. Nas atuais condições brasileiras, pressões maiores no mercado de trabalho vão levar à breca as projeções de inflação do governo.

Até agora, depois de um semestre de estagnação do crescimento econômico, o mercado de trabalho, ou pelo menos a taxa de desemprego, mal reagiu. Parece que os empresários estão "esperando" a economia se acelerar -até mesmo na combalida indústria.

Em tese, a atividade produtiva deve apertar o passo a partir deste primeiro trimestre de 2012.

Como seria então possível que o desemprego comece a aumentar ou os salários fiquem reprimidos? Não se trata de "explosão inflacionária" e outras maluquices que a gente ouvia até meados de 2011. Mas é difícil de esperar refresco nos preços vindo do mercado de trabalho.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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