domingo, 6 de maio de 2012

Além de Carlinhos Cachoeira:: Janio de Freitas

Ou a principal descoberta do caso continua encoberta ou é a ação da CPI e da PF que exige esclarecimento

Mesmo com tudo o que já foi divulgado e pressentido, ou a principal descoberta da Polícia Federal ainda está encoberta, por misteriosas razões, ou são comportamentos estranhos da própria PF e já também da CPI mista (CPMI) que precisam ser esclarecidos. Tanto quanto a rede de Carlinhos Cachoeira e seus fins.

O noticiário está bastante aturdido, nele se encontrando, por exemplo, de uma só vez, a inclusão de Fernando Cavendish nos escalados para depor e a afirmação de que a Delta Construtora, de que Cavendish é dono ou "dono", está "blindada" na CPMI, por pressão do governo. Ao aturdimento diário deve-se parte das coisas estranháveis. Outras, porém, são fatos demonstrados.

Já citado o calendário de depoimentos, nele mesmo é surpreendente a reserva de todo o mês de junho para debates entre os integrantes da comissão. Assim também quanto aos depoimentos marcados para este mês. Seja pela quantidade dos relacionados para um só dia (cinco e ainda "outros" em 25 de maio), o que não faz prever inquirições habilidosas e minuciosas; seja pelas datas, com o mês todo à espera de que o senador Demóstenes Torres deponha no dia 31, encerrando os apenas sete dias com inquirições em todo o mês.

O normal seria que a busca intensificada de informações, confissões e denúncias fosse preliminar, porque fundamental para a previsível ramificação das apurações, em um caso com múltiplas faces.

As providências para a guarda do inquérito entregue à CPMI lembram a Sala de Situação da Casa Branca ou do Pentágono. Por certo nunca houve no Congresso nada parecido com a sala em que os integrantes da comissão terão entrada restrita. E, lá, sua consulta ao inquérito será sob a vigilância de várias câmeras, negado-lhe até o porte de celular.

O que contém o inquérito a justificar tudo isso? A explicação de evitar vazamento para a imprensa é pueril. Todos sabem que a comissão está repleta de congressistas sempre prontos a repassar para repórteres, segundo suas predileções pessoais, o que ocorre em reuniões sigilosas, o teor de documentos e os segredinhos de sempre. E a imprensa, ainda mais na agitação de uma CPMI, em que os suspeitos e depoentes ficam meio indefesos, estará satisfeita com informações parciais, pontuais mesmo, do que um congressista-colaborador tenha lido na sala-fortaleza.

Por trás do pretexto, ou haverá de surgir algo muito grave, ou a CPMI se tornará devedora de explicações à opinião pública, assim como se dá com a Polícia Federal. Sempre por pedido a um juiz, a transferência de presos para distantes penitenciárias de segurança máxima é reservada a criminosos de alta periculosidade -chefes do tráfico, de milícias armadas, matadores. Até hoje não se sabe que motivo levou ao pedido, e à concordância do Judiciário, de transferência de Carlinhos Cachoeira para Mossoró, Rio Grande do Norte. Onde ficou em situação (não declarada, mas real) de isolamento, inclusive impedido de contato normal com seus advogados.

Noticiada a estranha situação, o Judiciário acedeu ao pedido, dos advogados, de retorno do preso a Brasília. Mas as condições de prisão a que Carlinhos Cachoeira foi submetido de imediato, em Brasília, só podem ser entendidas como intimidatórias. Ou há algo encoberto, que levou a PF e um juiz a isolar o preso para impedi-lo de mandar mensagens e orientações, ou a polícia exorbitou, suspeitamente, e teria que responder por isto. Os delegados do caso abrem o calendário da CPMI, o que será boa oportunidade de buscar-lhes o esclarecimento.

É preciso dizer que, nisso tudo, inexistem indícios de má-fé do presidente e do relator da CPMI, Vital do Rêgo e Odair Cunha. Seu modo de agir no comando do inquérito parlamentar ainda está por ser visto. É, aliás, o que menos promete espantos dentre o tanto que está por ser visto e ouvido, no caso que é muito mais espantoso do que se mostrou até agora. Mais espantoso, claro, se for devidamente exposto.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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