Desconfiança
geral
Governo admite que o sistema de distribuição de energia do país é inseguro.
Norte e Nordeste têm novo apagão»
Antonio Temóteo, Ana Carolina Dinardo
Antes considerado uma das áreas mais eficientes do governo, o setor
energético sofreu mais um duro golpe. Todos os estados do Nordeste e parte da
região Norte ficaram no escuro por pelo menos quatro horas a partir de 0h14 de
ontem. Esse foi o quarto apagão desde setembro, o que levou o ministro interino
de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, a admitir que o sistema elétrico
brasileiro não é mais confiável. Foi ele, por sinal, quem comunicou à
presidente Dilma Rousseff o incidente que deixou mais de 53 milhões de pessoas
no escuro. Responsável pelo modelo em vigor hoje no país, Dilma não escondeu a
irritação. E cobrou medidas urgentes para minimizar as críticas de ineficiência
que estão recaindo sobre a sua administração.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a interrupção no
fornecimento de energia decorreu de um curto-circuito que afetou o
funcionamento de um capacitor da linha de transmissão Colinas-Imperatriz, entre
o Tocantins e o Maranhão. O trecho é operado pela empresa Taesa, que tem a
Cemig como principal acionista. Na Bahia, conforme a Empresa Baiana de Água e
Saneamento S.A. (Embasa), a falta de energia provocou a paralisação do sistema
de bombeamento que abastece Salvador. Os hospitais do Ceará também foram
afetados e deixaram de fazer cirurgias. No Recife, os transtornos foram enormes
e a violência aumentou nas ruas escuras.
Uma reunião de emergência do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE)
foi convocada para dar explicações a um país atônito diante dos tormentos
provocados pela sequência de apagões. Uma análise preliminar de técnicos da
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do operador do sistema e da Taesa
apontou que uma descarga elétrica pode ter afetado as linhas de transmissão,
uma vez que chovia na região. “Não é uma desculpa para nos escondermos atrás de
um fenômeno natural. Nosso objetivo é investigar porque a proteção falhou”,
disse o presidente da Taesa, José Ragone.
Alvo de críticas e de pesadas cobranças, Zimmermann foi taxativo ao descrever a
frágil situação em que o país se encontra. “Não é normal que esse tipo de
acidente ocorra no sistema elétrico, que foi planejado para ser confiável”,
disse. Os riscos de que outros apagões ocorram são enormes e essa ameaça só
diminuirá quando, efetivamente, o governo descobrir o que está errado. Diante
desse quadro assustador, o ministro interino acrescentou que estão em curso
inspeções nas linhas de transmissão operadas por companhias do setor — várias
delas, sucateadas — para tentar interromper a sequência das interrupções na
distribuição de energia.
“Estamos com equipes técnicas direcionadas para fazer um estudo minucioso sobre
os últimos acontecimentos que afetaram o sistema, para, então, acabarmos de vez
com essas quedas de energia”, disse Zimmermann. Uma coisa, no entender do
diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, está claro: não há a possibilidade de
sabotagens no sistema. “Não há a menor hipótese. O sistema de proteção falhou e
causou a queda no fornecimento de luz”, assegurou.
Apesar das ressalvas, conclusões efetivas sobre as falhas só devem ser
divulgadas na próxima semana. Na avaliação do comitê que monitora o setor
elétrico, as ocorrências, que podem minar a confiança na capacidade do governo
de manter a segurança do sistema elétrico, não estão relacionadas ao processo
de antecipação, para o ano que vem, das renovações de concessões que vencem a
partir de 2015. Por meio dessas operações, as contas de luz terão de ficar até
28% mais baratas para as empresas e 16% para as residências.
Na avaliação do professor Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), a capacidade de geração de eletricidade no país é suficiente
para atender a demanda dos brasileiros, mas há muita vulnerabilidade nas linhas
que levam luz às regiões. “Precisamos de investimentos em transmissão e
operação. Mas de nada adiantará a expansão das linhas se a manutenção e o
planejamento continuarem falhos. Tenho medo que a redução das tarifas crie um
problema para as distribuidoras manterem seus quadros técnicos”, concluiu. Para
o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura(CBIE), Adriano Pires, a
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não cumpre adequadamente o seu
papel como órgão regulador, e isso afeta todo o sistema. Por meio de nota, a
Anel disse que realiza periodicamente fiscalizações.
Fonte: Correio Braziliense
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