Caio Junqueira e Mauro Zanatta
Andrade: "Tenho uma ligação forte com o Ministério da Agricultura. Evidentemente que há possibilidade de eu assumir"
BRASÍLIA - A reforma ministerial que começa a tomar forma hoje, a partir de reunião entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer, abriu uma divisão na bancada federal de Minas Gerais e estimulou negociações de bastidores envolvendo PMDB, PR e PSD.
Cotado para assumir o Ministério da Agricultura, o presidente do PMDB mineiro, deputado federal Antonio Andrade, antecipou o movimento ao iniciar, nos últimos dias, consultas a dirigentes de segundo escalão da Pasta para se informar sobre eventuais alterações na composição do ministério, segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Andrade confirma as conversas, mas nega que esteja antecipando quaisquer nomeações. "Eu tenho uma ligação forte com o Ministério da Agricultura. Estou sempre lá e, evidentemente, que há possibilidade de eu assumir", disse ao Valor. "Mas minhas conversas recentes lá foram pela ligação que tenho com a Pasta, com a agricultura. A gente está sempre conversando. Pode até parecer que está se informando sobre a Pasta porque pode vir a assumir. Mas é tudo conversa normal", defendeu-se. E arrematou: "Se não tivesse essa discussão de troca de ministros, as conversas seriam as mesmas. Não tem nada de antecipação".
A movimentação de Antonio Andrade para garantir a Agricultura levou parte da bancada federal de Minas a deflagrar um movimento para garantir ao Estado um espaço mais robusto na Esplanada. As conversas estão centradas mais especificamente nos ministérios dos Transportes e da Ciência e Tecnologia.
Isso se daria a partir de um acerto entre as cúpulas do PMDB e PR, pelo qual um pemedebista - nesse caso, o deputado federal Leonardo Quintão (MG) - assumiria os Transportes e o PR seria deslocado para a Ciência e Tecnologia. O vice Michel Temer esteve ontem com o secretário-geral do PR, deputado Valdemar Costa Neto (SP). Ambos trataram desse assunto, mas não chegaram a conclusões, apurou o Valor PRO.
Temer, porém, negou as negociações de bastidores. Por meio de sua assessoria, informou que "não participa de escolha de ministério e quem decide sobre ministério é a presidente Dilma".
No caso da Agricultura, há entraves para "realocar" o ministro e deputado federal Mendes Ribeiro (RS). Dileto amigo de Dilma, tem forte simpatia da chefe. Mas não tem "tropa" na bancada ruralista nem no setor agropecuário para defender sua permanência. E vê seus adversários, sobretudo gaúchos, usarem sua luta contra um câncer para enfraquecê-lo na disputa pela cadeira. Mendes quer ficar, mas o PMDB cogita mudá-lo de Pasta. E tem um trunfo: se voltar à Câmara, Mendes "tira" o mandato do correligionário Eliseu Padilha, membro de "núcleo duro" do PMDB e político muito próximo do vice Michel Temer.
Temer deve saber em uma conversa hoje com Dilma qual a definição da presidente para os espaços do partido após a reforma. Há uma avaliação corrente no PMDB de que Dilma não pretende conceder-lhe os Transportes, muito menos a Quintão. Daí, a necessidade de alternativas e conversas com outros partidos.
Temer receia que oferecer Agricultura a Minas não será suficiente para atrair todos os mineiros do partido à sua reeleição. Quintão, por exemplo, líder da insurreição contra a baixa participação mineira no governo, pode manter conversas com a oposição para levar o PMDB ao projeto presidencial do senador Aécio neves (PSDB-MG) em 2014.
Além disso, Quintão vê deslealdade na derrubada de Mendes Ribeiro e considera a Agricultura desproporcional à relevância político-eleitoral de Minas. Mas os mineiros concordam com os perfis: se Dilma oferecer Agricultura, Andrade deve ser indicado. Se for Transportes, será Quintão.
Mas Andrade nega uma disputa. "Eu disse ao Quintão que se chegar à presidente Dilma e disser que é a bancada que escolhe, eu escolho ele como ministro. Agora, ela pode decidir dizendo o nome do escolhido, daí não há o que fazer. Por isso não tem disputa nenhuma. Eu trabalhei 100% para ele ser ministro e, de repente, sentimos a necessidade de abrir mais o leque de nomes. A bancada está muito madura e unida para escolher um nome".
Fonte: Valor Econômico
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