quarta-feira, 9 de abril de 2014

Para FH, investigação da Petrobras é de ‘interesse nacional’

Especialistas avaliam que impedir criação da CPI tem ônus político

André Miranda, Paulo Celso Pereira e Tiago Dantas – O Globo

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta terça-feira que acha difícil Lula impedir a criação da CPI da Petrobras, porque não se briga contra fatos.

— Ele (Lula) está se propondo a uma tarefa ambiciosa (barrar a CPI). Fica contra a opinião pública e os dados que estão aí por todos os lados. A oposição deve verificar os fatos e, ao contrário do que o Lula está dizendo, não deve usar (a CPI) como bandeira política. É uma coisa de interesse nacional. Tem que buscar os fatos e corrigi-los — defendeu.

Para FH, se tudo o que está sendo publicado for verdade, “é espantoso”:

— Se ele (Lula) conseguir demonstrar que está tudo certo, é bom para o Brasil. Mas é difícil.

Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), a proposta de Lula de mandar o governo e o PT para cima da CPI foi uma espécie de admissão de culpa.

— Com sua fala, ele revela receio de que a verdade possa vir à tona — afirmou.

O deputado Beto Albuquerque (RS), líder do PSB, também criticou:

— Espero que “ir para cima" signifique fazer a CPI para que não paire dúvidas sobre esses problemas que estão se empilhando na Petrobras, e não seja sufocar a necessidade de sabermos toda a verdade. Não estamos falando de uma empresa de fundo de quintal. Temos de investigar.

Ao pedir para o governo brigar com “unhas e dentes" contra a instalação da CPI, Lula fez uma jogada inteligente, na avaliação de cientistas políticos. Por outro lado, a medida pode gerar perdas políticas às vésperas da eleição presidencial.

O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto acredita que a opinião pública pode comparar a situação atual com os resultados do mensalão. Em entrevista dada para blogueiros nesta terça-feira, Lula disse que se o PT tivesse feito o “debate político no momento que tinha que fazer", o impacto do mensalão no partido poderia ser menor.

— Uma leitura sobre o que o Lula falou é simples: quem é governo, não quer CPI. E isso a gente vê em todas as esferas do governo: seja estadual ou federal. Mas há uma segunda questão nessa fala.

Pode estar passando recibo de que quer esconder algo. As pessoas podem pensar: “Se ele fez essa comparação com o mensalão e teve problema no mensalão, deve ter problema na Petrobras também” — argumenta o professor.

Para Couto, o discurso de Lula seria mais eficiente se tivesse sido feito para os políticos do PT e dos partidos aliados. Para o público externo, avalia, Lula poderia mostrar que a CPI é mais uma luta política do que uma investigação de fato.

O cientista político Valeriano Costa, professor da Unicamp, afirma que evitar a investigação traria uma certa tranquilidade para o PT nos próximos meses, mas não excluiria o ônus político:
— O custo político de barrar uma CPI é grande, mas é momentâneo. Pode haver uma crítica da opinião pública porque o governo não quis investigar. Mas, se a CPI é instalada, o assunto vai estar na mídia o tempo todo.


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