• Executivos falarão sobre pagamento de propina na usina
Jailton Carvalho – O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA - O diretor-presidente da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, vai revelar esquema de pagamento de propina na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, uma obra de aproximadamente R$ 19 bilhões. O compromisso de apontar desvios em Belo Monte consta do acordo de delação premiada firmado pelo executivo e dois procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato, na madrugada de sábado, em Curitiba. A série de depoimentos da delação premiada de Avancini deve começar hoje.
Nas negociações com a força-tarefa, Avancini se comprometeu também a indicar os nomes de pelo menos duas pessoas que teriam recebido propina. As revelações do executivo podem ter forte impacto nos desdobramentos da Operação Lava-Jato que, até o momento, tem se concentrado em fraudes na Petrobras. A usina de Belo Monte é a segunda maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O vice-presidente da Camargo, Eduardo Leite, que também firmou acordo de delação premiada, deverá confirmar pagamento de propina em obras da empreiteira na Petrobras.
Propina em operações triangulares
Leite vai reconhecer pagamentos de propina em operações triangulares e até mesmo em negociações diretas com o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores da movimentação financeira do dinheiro desviado de contratos entre empreiteiras e a Petrobras. Youssef e outros acusados na Lava-Jato e investigados já falaram sobre o assunto. O executivo deverá reconhecer os crimes imputados a ele, conforme prevê o acordo, e acrescentar novos detalhes sobre transações escusas relacionadas a contratos com a maior empresa do país.
Pelos acordos de colaboração, Dalton deverá pagar multa de R$ 2,5 milhões e Eduardo Leite R$ 5 milhões. Os dois devem ser soltos tão logo termine a série de depoimentos da delação. Os dois decidiram fazer acordo com a força-tarefa porque estavam com receio de serem condenados a longos anos de prisão e começar a cumprir pena em regime fechado. Teria pesado ainda na decisão o longo tempo da prisão provisória e as dificuldades de se responder a um inquérito preso.
A Camargo Corrêa é uma das 10 empresas do consórcio encarregado das obras de Belo Monte.
Mesmo após assinarem acordos de delação premiada, os executivos da Camargo Corrêa continuarão presos por, pelo menos, 30 dias. De acordo com seus advogados, a dupla só terá a liberdade provisória decretada após a homologação do acordo pela Justiça. Soltos, eles cumprirão prisão domiciliar, usando tornozeleiras eletrônicas. Ainda nesta semana, eles começam a prestar os primeiros depoimentos ao Ministério Público Federal.
- Tanto Avancini quanto Eduardo Leite, deverão prestar inúmeros depoimentos dentro do processo de colaboração com a Justiça, mas as datas ainda não foram marcadas - disse o advogado Marlus Arns de Oliveira, que vai orientar Eduardo Leite no processo de delação premiada.
Os dois executivos da Camargo Corrêa também negociaram a redução da pena. Segundo Marlus Arns de Oliveira, seu cliente vai colaborar "contando tudo o que sabe", além da obrigação legal de apresentar as documentações necessárias à Justiça. Há informações de que o MPF e PF desejam que os executivos da Camargo Corrêa falem também sobre a atuação do cartel de empreiteiras em obras que extrapolem o campo da Petrobras. (Colaboraram Germano Oliveira e Renato Onofre)
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