Ao contrário do que ocorre no Estado do Rio, policiais do Espírito Santo estão com salários em dia
O ajuste fiscal nas contas do Espírito Santo, estado que se tornou exemplo de austeridade administrativa para o país — especialmente num momento em que unidades da Federação, como o Rio de Janeiro, vivem situação financeira calamitosa —, não tem relação direta com a greve de policiais militares iniciada no dia 4 de fevereiro, que provocou mortes e levou o caos à população capixaba.
Diferentemente do que ocorre no Rio de Janeiro, onde policiais militares, assim como os outros servidores públicos estaduais, têm recebido seus salários com atraso, no Espírito Santo os PMs estão com os soldos em dia. Entre outras coisas, eles reivindicavam reajuste salarial e melhores condições de trabalho. É preciso deixar claro que o movimento capixaba — escondido atrás de familiares que protagonizavam um teatrinho, fingindo bloquear as entradas de quartéis — aproveitou-se da ausência do governador Paulo Hartung, licenciado para extrair um tumor da bexiga, em São Paulo.
Com o governador fora do estado, PMs se retiraram das ruas e provocaram uma situação de descontrole social. Escolas, universidades, postos de saúde e lojas comerciais fecharam, ônibus pararam de circular, o medo tomou conta das ruas, e a população acabou se tornando refém do movimento dos policiais militares. Em dez dias, foram contabilizados mais de 140 mortos, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo.
Hartung retornou ao estado, e o governo não cedeu aos grevistas, como parecia tentador diante da desordem. Ao contrário. O comando da Polícia Militar anunciou a punição de mais de 700 PMs, que estão sendo indiciados por crime de revolta. Se forem condenados, poderão receber penas de 8 a 20 anos de detenção, além de serem expulsos da corporação. O envio de homens da Força Nacional, do Exército e da Marinha fez com que a vida nas ruas da Região Metropolitana de Vitória voltasse aos poucos ao normal. Com o movimento enfraquecido, na semana passada, policiais militares começaram a voltar às ruas, embora uma parte ainda permaneça aquartelada. No início da semana, em reunião com o comando da corporação, familiares dos PMs que diziam liderar o movimento já admitiam abrir mão do reajuste — principal reivindicação do grupo — em troca de anistia. Nada feito.
Os desdobramentos do movimento capixaba pouco têm a ver com o que aconteceu no Rio, onde houve uma paralisação parcial da Polícia Militar. O estado, em que o funcionalismo em geral recebe seus salários no décimo dia útil, já estourou todos os limites de gastos de pessoal previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Obras estão paradas, hospitais reduziram atendimento, e serviços funcionam precariamente em meio à crise. Apesar desse cenário, a greve dos PMs fluminenses não prosperou. O que mostra que esses movimentos seguem lógicas próprias. A greve da PM praticamente acabou, e o Rio continua pedindo socorro da União para poder funcionar.
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