- Folha de S. Paulo
"Só tem um jeito de a pessoa não se envolver com a Polícia Federal: se a PF não souber [da ilegalidade] e se a pessoa não se envolver nas denúncias." Era Lula, em 2008, defendendo as investigações.
Os que reclamavam da polícia são os que agora veem abusos na Lava Jato. Fora isso tudo é diferente, a começar por Lula, desta vez ele próprio alvo de investigação. O que mais mudou nos últimos anos foi o peso que a suspeita descarrega nos envolvidos.
Juridicamente, os pedidos de inquérito do procurador-geral são apenas o início do jogo. Cada um deles, se acatado, dará início a uma investigação, que eventualmente se transformará em denúncia, que terá de ser aceita pela Justiça, para só depois, quem sabe, resultar em condenação.
Politicamente, os pedidos produzem o efeito de uma sentença. A força da acusação é tamanha que o PGR "ganhou" o poder de afastar ministros. Quem for denunciado, diz o Planalto, será retirado do cargo temporariamente. Se virar réu, adeus.
Essa mudança de peso se deve à Lava Jato, que nesta sexta (17) completa seu terceiro aniversário. Depoimento após depoimento, a operação liderada por Sergio Moro foi tirando a corrupção da sombra, a despeito de freios como o foro especial.
Chegou-se ao ponto de a ilegalidade ser debatida na linha do "certeza que não comentei isso antes?". Emílio Odebrecht disse que caixa dois era o "modelo reinante", que "sempre existiu". A desfaçatez ignora fronteiras e títulos: a Lava Jato fez o colombiano Juan Manuel Santos, Nobel da Paz, admitir desvio eleitoral.
Sem ter a margem de antes para atacar a investigação, os políticos movem a artilharia para outro polo.
"Abriremos espaço para um salvador da pátria?", questionou o senador Aécio Neves. "Não, é preciso salvar a política." Só que "salvar a política", nesse discurso, significa perdoar crimes —noves fora o fato de que foram justamente esses políticos que nos trouxeram até aqui.
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